Vou ser sincera: quando vi o Poltergeist original, de 1982, não tive medo nenhum e ri bastante. E, para uma pessoa que está acostumada a efeitos especiais cada vez mais reais, aqueles presentes no filme de 33 anos atrás são bizarros. Por isso, não esperava me impressionar com o remake de Poltergeist – O Fenômeno (Poltergeist, EUA, 2015), dirigido por Gil Kenan; a única coisa que eu queria era levar alguns sustos, ponto. Resultado? Como filme de terror, o longa deste ano é tão sem graça quanto o antigo e ainda peca em seu roteiro corrido, mas ganha pontos por seu toque mais aterrorizante e realista.
A história é quase que a mesma: um casal e seus três filhos se mudam para o subúrbio e as coisas ficam tensas quando Madison (Kennedi Clemens), a simpática filha mais nova, começa a se comunicar com entidades desconhecidas. Ela acaba trazendo-as para dentro de casa e fica presa na sombria realidade paralela em que esses seres vivem, enquanto sua família tenta trazê-la de volta. Em relação ao roteiro, um detalhe alterado foi o fato do pai, Eric (Sam Rockwell), estar desempregado, enquanto no original ele trabalhava para uma grande empresa. A esposa, Amy (Rosemarie DeWitt), é uma escritora que ainda tenta escrever seu primeiro livro.
Não vou comparar todas as mudanças porque vou dar spoilers e ninguém merece isso, portanto, vou me prender ao remake. A começar pelos pontos negativos, temos um enredo que se passa demasiadamente rápido, como se tudo fosse em um fim de semana (até faria um pouco de sentido porque nenhum dos filhos vai à escola). Os pais mal chegam ao novo lar e Madison já começa a dialogar com os personagens mortos, no dia seguinte eles já conseguem capturá-la, no outro temos especialistas tentando ajudar e, depois, chega o maior entendedor da área, Carrigan Burke (Jared Harris).
Em outras palavras, mal se tem tempo para ver os espíritos assombrando os habitantes da casa ou entender melhor como aquela família foi parar ali e quem são aqueles indivíduos e suas relações. Sabe quando alguém fala rápido demais e você pede para ele falar mais devagar? Pois é, dá vontade de gritar isso no meio do cinema. Se alguns filmes demoram para finalmente acontecer algo, Poltergeist faz exatamente o contrário. Uma das coisas mais legais do original era o fato dele ter toques cômicos hilários e um certo tempo até que a garotinha ser sugada. Isso é visto aqui em raras ocasiões, uma vez que a história é narrada com pressa.
Uma parte que foi abolida (tenho que citá-la, desculpa!) é uma em que o filho do meio fica com medo dos raios no céu e o pai explica que de tantos em tantos segundos é uma diferença segura. Obviamente, em uma cena isso acontece em um espaço menor de tempo, o raio atinge uma árvore e ela invade a casa. No novo, não tem nada disso, somente a parte da árvore, e não tem ninguém para ajudar Griffin (Kyle Catlett) – ele se salva sem nenhuma explicação com sentido, vale ressaltar.
Apesar do roteiro ser mastigado na velocidade da luz, alguns pontos tornam o longa recomendável, entre eles, o tom mais sombrio. Se, por um lado, perdeu-se o humor do antigo, por outro ganhou-se um tom bastante assustador. A tecnologia mais realista é, sem dúvidas, um fator que contribuiu para isso, mas algumas alterações no enredo vieram para melhor. Destaco a atenção ao mundo sobrenatural, desde em que Madison é sugada até lá (vemos a garota entrar no armário e se distanciar da realidade aos poucos), até quando ela tenta ser resgatada. O fato de termos um maior acesso a esse local antes desconhecido é bem legal, especialmente para curiosos que ficam imaginando como ele poderia ser. E não, não é nada decepcionante, é de arrepiar!
As cenas com a televisão, com o icônico palhaço, imaginações grotescas de alguns personagens – Boyd (Nicholas Braun) que o diga! – e o uso até mesmo de drones e celulares, ficaram interessantes na telona. Enfim, adaptações que já eram esperadas, em função da sociedade em que vivemos, e que se encaixaram direitinho na história contada.
Nunca viu Poltergeist? Olha, é mais um filme de terror que não assusta muito, traz os clichês básicos do gênero (coisas pulando em você, personagens se salvando na última hora) e tem um final bem fraco. Fraco porque ele faz referência ao humor daquele presente no original, mas, como essa característica não se sobressaiu no decorrer da película, ficou um pouco tosco. Caso você seja fã do gênero, pode ver, é um entretenimento razoável.
Quem conhece o filme de 1982, vai se assustar com o fato do roteiro ser acelerado demais, o que impede os expectadores de se envolverem com a história e entrarem no clima. No entanto, a atenção às entidades que assombram os protagonistas, o carisma de Madison e os ótimos efeitos especiais são diferenciais que podem agradar os fãs do antigo. Eles podem sentir falta do humor e maior exploração do enredo, mas as chances de sentirem medo são grandes. Pessoalmente, não sou fã do Poltergeist original e nem do novo. Existem filmes de terror bem melhores, tanto em questão de suspense como de sustos e roteiro. Mas é apenas a minha opinião.