Close em Mia (personagem da atriz Sophie Wilde) com cara de medo e desespero em cena de Fale Comigo - review talk to me

Review Fale Comigo: Um dos melhores filmes de terror de 2023

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de Fale Comigo possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação. 

poster talk to me - fale comigo mão branca no fundo escuroO QUE FAZ UM BOM FILME DE TERROR? Será que são os sustos? Sua capacidade de gerar tensão e/ou medo? A atmosfera bem desenvolvida, tanto nos conflitos dos personagens quanto no que acontece na história? Na minha opinião, cada uma dessas perguntas responde um pouco sobre a construção de um bom filme de terror, especialmente aqueles com potencial de se tornarem clássicos modernos. 

Fale Comigo (Talk to Me, Danny Philippou e Michael Philippou, 2022) me parece um sério candidato a se tornar clássico instantâneo, assim como aconteceu com Corrente do Mal, A Bruxa e Hereditário, por exemplo. Não é coincidência observar que, exceto por Corrente do Mal, os outros dois são propriedade da produtora A24, a mesma que cuida de Fale Comigo. No filme acompanhamos um grupo de jovens que descobre uma mão embalsamada que permite se comunicar com os mortos, mas o que era apenas uma brincadeira se torna algo extremamente perigoso. 

Preferindo começar com uma sequência muito pesada e intensa, ao invés de construir o contexto da ação, Fale Comigo surpreende imediatamente. Sem entender o que está acontecendo, somos arrastados junto com um personagem para uma festa cheia de adolescentes. De repente, um deles esfaqueia esse personagem e logo na sequência enfia a faca no próprio crânio. 

O ritmo cai após essa introdução, mas não chega a ser um problema. É a partir desse momento que conhecemos os verdadeiros protagonistas da história, como Mia (Sophie Wilde), uma jovem que ainda lida com o luto pela perda da mãe. Mia é retratada como uma jovem enfrentando um episódio de depressão e isolamento, por isso aparece sempre com expressões mais contidas, como se estivesse deslocada o tempo inteiro. Inclusive, lançando olhares ambíguos para o ex-namorado, que agora está junto da sua melhor amiga. 

A vida de Mia muda depois de conhecer um jogo “diferente” da turma de amigos. Eles usam uma mão embalsamada para estabelecer contato e receber o espírito de pessoas mortas. O resultado causa calafrios, já que as expressões, linguagem corporal e som da voz mudam completamente. Quando Mia experimenta pela primeira vez, logo se sente diferente, como se estivesse “viciada” na sensação de não ser apenas ela mesma – ainda que por alguns breves instantes. 

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A brincadeira foge do controle depois que um jovem acaba desrespeitando a regra do tempo limite para manter a conexão. Isso acontece porque ele recebe ninguém menos que a própria mãe de Mia. Toda a sequência em que o adolescente começa a praticar atos gráficos de automutilação é exibida com uma crueza dolorosa. Como espectadores precisamos nos esforçar para não fechar os olhos, já que a câmera não tira o foco do jovem. Se a introdução havia sido pesada, esse momento, nem se fala. 

O que Mia não consegue perceber, e nem seus amigos, é que existem sérios perigos de se brincar com o além. As entidades demoníacas sentiram a vulnerabilidade de Mia, que se tornou uma presa fácil para ser rapidamente envolvida em jogos de manipulação e sugestões mentais. Não tarda para que ela se sinta como a heroína, a única capaz de enxergar a verdade. E as consequências são severas. 

Me chama muito a atenção observar o ritmo da obra, que começa no 220 e depois começa a evoluir lentamente até chegar em um ponto sem retorno, quando sabemos o que espera nossos personagens. Existem cenas que assustam, mas a verdadeira preocupação dos diretores é criar um ambiente em que a gente sofra junto dos personagens e sinta que eles estão em perigo. 

Fale Comigo trabalha muito bem o sentimento de luto e depressão, criando uma metáfora curiosa para a comunicação com os mortos. É um dos melhores filmes de terror de 2023 e imperdível para os cinéfilos que amam o gênero. 

Veja a crítica de Fale Comigo no canal do Cinema de Buteco no YouTube: