Baseado em uma HQ cultuada(a qual eu encomendei mas nunca chegou na livraria), escrita pelos espanhóis Lorenzo Mattotti e Claúdio Piersanti. Estigmas narra uma história que nos faz pensar: Qual o limite entre o santo e o bizarro?
O filme (e a HQ) conta a história de um grande(literalmente) homem chamado Bruno, que do dia pra noite, tem sua vida totalmente alterada pelas chagas que dão nome a obra.
Bruno é um homem perdido, sobrevivente na miséria humana. Ex-presidiário, trabalha em um buteco, fazendo todo tipo de serviço, onde é destratado pelo dono do estabelecimento que o humilha sempre que pode. Não contente, vive em uma espelunca sob a ameaça de ser despejado a qualquer momento, e ainda é alcoolatra.
A interpretação desse personagem é realmente bem feita por Manuel Martínez, um atleta espanhol que estréia no cinema na pele, e poucas falas, do brutamontes que não tem prazer algum na vida, como se esperasse a morte a qualquer momento.
A vida de Bruno aparentemente ganha algum significado quando em um dia qualquer acorda com estigmas nas palmas das mãos.
Da noite pro dia, Bruno é dado como santo e após vagar pelo mundo, encontra funcionalidade em um circo, onde decide viver em paz.
A estética do filme é impressionante. Preto e Branco com jogo de sombras bem utilizado, e simbolismos delicados, conclui que a miséria fica mais aparente em preto e branco. O som sem trilha sonora e com as pouquissimas falas do protagonista faz com que o filme se arraste um pouco, porém não é um filme de tão díficil aceitação, para quem já vai sabendo o que vai ver.
Não sei se felizmente, ou infelizmente, o filme tem uma carga emocional que pesa e cansa para além do preto e branco e da ausência de trilha sonora. É um filme triste, pelo protagonista, pela vida dele e pelo destino do mesmo. Não há milagre que salve Estigmas de ser uma história cinzenta e que como na vida real, não há milagre que acabe com as mazelas do mundo. Mas acho que essa é mesmo a idéia.
Sobre a HQ: Tive o prazer de ver algumas imagens da revista, e a comparação entre ela e o filme é inevitável. Os desenhos de L. Mattotti são ríquissimos, realmente uma obra de arte, não me admira que se tornou uma HQ cult.
Enfim, se tiverem a oportunidade de verem ou lerem a revista, façam-o. Mas de forma consciente que nem tudo na vida é uma benção divina.