Demônio

Será que M. Night Shyamalan vai conseguir repetir o sucesso de O Sexto Sentido algum dia? Essa é a pergunta que os fãs daquele que já foi considerado como uma das maiores promessas do cinema de terror e suspense fazem sempre que assistem um novo filme do diretor. Em Demônio, Shyamalan apenas divide o roteiro com Brian Nelson (30 Dias de Noite) e a cadeira de diretor é ocupada por John Erick Dowdle, responsável por transformar REC em uma fraca produção norte-americana chamada Quarentena. A decisão de Shyamalan de ficar cuidando apenas do roteiro e produção foi acertada, afinal nem mesmo a pessoa mais egocêntrica do mundo iria continuar colocando seu nome em trabalhos medíocres e sem lampejos de criatividade e enquanto não surgir um filme que limpe um pouco o nome do diretor (Fim dos Tempos foi um tiro nos testículos) em Hollywood, é melhor aceitar as sombras por um tempo.

Demônio está longe de ser o tão aguardado filme de terror que os fãs de Shyamalan esperam ter a oportunidade de assistir um dia. Tudo bem que ele não chega a dar aquele misto de vergonha e medo das consequências de ter assistido Fim dos Tempos até o final, mas a verdade é que Demônio não é o filme novo do diretor de o Sexto Sentido. Preciso deixar isso claro, apesar de ser impossível ignorar o nome do indiano. Sendo ou não capaz de oferecer novas produções assustadoras, o fato é que ele consegue ser motivo de discussão sempre que lança um novo filme. Se vão ser desastres como o horrível filme das plantas assassinas ou da fraca adaptação do desenho Avatar, não importa. A maior parte do público só vai conseguir lembrar de um filme quando ouvirem o nome de Shyamalan e no fim das contas, é isso mesmo que importa.

A premissa de ficar preso num elevador já embalou os pesadelos de muitas pessoas. O mais curioso é que ao parar para refletir sobre a situação, nos encontramos divididos entre um fetiche sexual e a mais aterrorizante sensação de claustrofobia. Seria uma prova de que o prazer e a morte, afinal, não estão distantes uma da outra? No filme do diretor Dowdle, cinco desconhecidos entram no mesmo elevador e um a um, começam a sofrer violentas mortes. Todos são suspeitos e a polícia é incapaz de agir a tempo de evitar mais mortes, principalmente quando as suspeitas caem em cima de uma entidade paranormal. Os personagens são estereotipados e as atuações dignas da proposta do projeto de Shyamalan, que originalmente iria escrever diversas histórias de terror e fazer (socorro) vários filmes com orçamento reduzido. Se o projeto não se levasse a sério e os atores representassem caricaturas, talvez o resultado soasse um pouco melhor e menos fraco, porém Demônio parece se levar a sério e isso é uma pena. De qualquer forma, vale a pena prestar atenção e se divertir com o feioso Geoffrey Arend.

Demônio tenta ser novo e assustador, mas fracassa nas duas coisas. O roteiro fraco e sem emoção, acaba tornando previsível a revelação da identidade do coisa ruim. O maior defeito talvez esteja na falta de profundidade dos personagens, que são bem rasos e que abusam de clichês. Ninguém acha graça em ver um personagem arrependido no final da história, achando que o perdão é o suficiente para se salvar. Faltou coragem para um desfecho que fizesse jus à proposta da produção. Em Dama na Agua, o coitado do Shyamalan sofreu por utilizar uma fábula como base do roteiro. Parece que ele ignorou as críticas e resolveu basear as ações e decisões do “herói” de Demônio em uma história de terror, que aparentemente é bem mais assustadora do que os quase 90 minutos do longa-metragem que apenas afrouxou a corda no pescoço de Shyamalan.

São duas caipirinhas.