Não basta ter uma boa história para contar. A maneira como ela será contada pode definir se será um filme de impacto ou não. Uma prova disso é o found footage A Bruxa de Blair (Daniel Myrick e Eduardo Sánchez) que, amem ou odeiem, estreou nos cinemas em 1999 e aterrorizou muita gente por causa do formato do filme. O espanhol Rec (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2007) também carrega essa característica e tornou-se um dos filmes mais comentados dos anos 2000. Mas sempre que um formato que foge à regra surge, há uma divisão entre o público. Os que conseguem mergulhar de cabeça na proposta do filme, normalmente, valorizam essa diferença, mas quem não consegue comprar a ideia pode se sentir frustrado quando o filme acabar. O terror canadense Skinamarink – Canção de Ninar, do estreante Kyle Edward Ball, lançado no exterior em 2022, chega aos cinemas brasileiros com a missão de surpreender o espectador. Resta saber se a surpresa é boa ou ruim, mas isso depende mais do público. Afinal, a história fez a parte dela.
Skinamarink acompanha duas crianças, os irmãos Kevin e Kaylee, que acordam no meio da noite e descobrem que estão sozinhos em casa. A televisão passando desenho animado, o ponto de vista das crianças, e a iluminação ruim ajudam a compor o cenário perfeito para a imersão na história. A câmera, muitas vezes estática, ajuda a compor o clima de insegurança e a certeza de que algo muito ruim vai acontecer.
Os poucos diálogos nos fazem perceber que o filme é uma espécie de quebra-cabeça. O entendimento por parte das crianças e, consequentemente, a falta de liberdade e recursos comuns à idade, nos coloca em um lugar com muitas limitações. Enquanto isso, o tempo e espaço podem se misturar à imaginação das crianças e tornar a nossa experiência mais imersiva, porém mais intrigante.
Aos poucos, juntando as peças do quebra-cabeça com muita atenção, a gente pode acabar entendendo o que se passa na casa e por que os adultos estão agindo de maneira estranha. A narrativa demanda atenção para todas as informações que são jogadas de maneira aleatória para o espectador.
No Brasil, Skinamarink não se coloca em um papel que precisa explicar tudo de maneira clara, muito pelo contrário, dá margem para discussões a respeito. É como se ele fosse uma espécie de experimento, o que explica os poucos recursos que foram aproveitados de maneira eficiente. O filme contou com um orçamento de US$ 15 mil, fez milagre e virou US$ 2 milhões sem cair na armadilha de virar um trabalho tosco.
Essa incerteza e as múltiplas interpretações que o filme pode ter é o que pode dividir o público entre os que vão adorar Skinamarink e os que vão odiá-lo. A inovação nem sempre é vista com bons olhos.
Skinamarink – Canção de Ninar está em cartaz nos cinemas de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Campinas (SP), Juazeiro do Norte (CE), Brasília (DF) e Maceió (AL).