QUANDO O REMAKE DE AS TARTARUGAS NINJA FOI ANUNCIADO, e que Michael Bay estava envolvido no projeto, muita gente torceu o nariz. Eu confesso que me entusiasmei num primeiro momento até que entrei na onda da revolva a partir dos primeiros boatos de que modificariam as origens dos personagens para transformá-los em aliens. Felizmente, os produtores voltaram atrás naquela poderia ser a maior cagada cinematográfica do ano e chegaram ao ponto de inclusive incluir uma indireta referente ao assunto no meio do roteiro da obra.
Com direção de Jonathan Liebesman, mais conhecido por bombas como Fúria de Titãs 2 e Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, a reinvenção das Tartarugas Ninja funciona. Ainda que tenha diversos problemas na construção de seus protagonistas e tenha seus absurdos básicos, a nova versão oferece efeitos visuais de primeira linha e diversão garantida para os novos, e principalmente, os velhos fãs dos personagens.
Os efeitos visuais que transformam as Tartarugas em realidade são de primeira linha e batem de frente com toda a qualidade técnica apresentada recentemente em Planeta dos Macacos: O Confronto. Numa primeira impressão, o visual das Tartarugas chega a ser até desconfortável de tão horrorosas que elas são (ao contrário da versão bonitinha da trilogia dos anos 1990). Passados alguns minutos, acabamos nos acostumando e comprando a ideia. Ajuda muito o fato do roteiro acertar na dose de humor e pipocarem piadas que brincam com cultura pop (existem muitas referências hilárias ao longo da trama, então fiquem espertos), mas ainda assim não podemos ignorar a falta de desenvolvimento individual das quatro tartarugas mutantes. Apenas Michelangelo possui destaque maior, afinal é o principal encarregado de fazer as palhaçadas para arrancar risadas do espectador. A disputa de poder entre Leonardo e Raphael pode passar batido para quem não acompanhava o desenho, assim como a inteligência de Donatello se torna apenas um detalhe para caracterizar o personagem.
Se nem no desenvolvimento dos heróis o roteiro caprichou, imaginem como ficou a situação dos vilões. O temido Destruidor é retratado como um experiente e perigoso ninja, com um poder e técnica que deixam o coitado do Mestre Splinter extremamente preocupado. O sensei roedor acredita que seus discípulos não são capazes de lidar com uma ameaça tão letal. Só que, fora o seu tamanho e o fato de usar uma armadura, o Destruidor não passa essa sensação de perigo para o espectador, que é levado a crer nisso por livre e espontânea pressão.
Megan Fox é o nome mais conhecido do elenco. A bela atriz, cuja função até então no cinema era simplesmente ser linda, interpreta a corajosa (e intrometida) repórter April O’Neal. Para o delírio dos fãs, a moça aparece usando as famosas jaquetas amarelas. William Fichtner (da série Prison Break) aparece dando vida para um sujeito com a profundidade de um alface. Não é preciso ser um grande Sherlock cinematográfico para prever as reais intenções de seu personagem, que poderia ser bem mais interessante se ultrapasse a barreira de uma mera caricatura. Ou um vilão típico do Scooby Doo, sei lá. Já Will Arnett vive o parceiro de April, e consegue ser o responsável das melhores piadas da produção. Tudo bem que em uma delas, o diretor apela para o lado sexual e faz questão de dar um close (muito bem dado) no traseiro de Megan Fox. Poderia até passar batido, mas o fato da cena acontecer durante uma das principais sequências de ação é meio surreal. E mesmo assim, não deixa de arrancar risada de quem está acostumado com esse tipo de piada digna do Zorra Total.
As Tartarugas Ninja é eficiente em conquistar o espectador com piadas muito bem inseridas, bons efeitos especiais e abusar muito do fator memória afetiva. Se tratando de uma produção sobre quatro tartarugas falantes que dão socos e pontapés nos inimigos, seria esperar demais que os produtores realmente se empenhassem em produzir um conteúdo profundo e com valores filosóficos subliminares, como no caso do Hulk, de Ang Lee, que foi um verdadeiro fiasco nos cinemas. Claro que poderiam ter se preocupado em fortalecer e trabalhar melhor seus personagens, mas a verdade é que da mesma maneira que Godzilla agradou tanta gente, o novo Tartarugas Ninja tenta resgatar o espírito dos anos 1990, quando o cinismo ainda não havia dominado a mente dos espectadores e eles se permitiam embarcar numa jornada live-action que poderia muito bem se sair como um episódio de desenho animado sem o menor compromisso com a realidade.