ASSISTINDO AO THRILLER BUSCA FRENÉTICA FIQUEI NA DÚVIDA SOBRE OS MOTIVOS QUE LEVARAM ROMAN POLANSKI A ACEITAR DIRIGIR O FILME. Afinal de contas, a obsessão e o sexo – elementos contantes em suas narrativas – não aparecem aqui com a mesma força, sendo substituídas pela ansiedade e desespero do personagem interpretado por Harrison Ford. Até mesmo o sexo surge de forma tímida, mas que ganha força justamente por também ser contido em insinuações incertas. Mas antes de criar qualquer confusão, esses detalhes sórdidos em nada atrapalham a qualidade do filme.
A sequência inicial chama atenção especialmente por sua música. Acostumado com os clássicos temas dos faroestes, fica difícil reconhecer a pegada do compositor Ennio Morricone em uma trilha menos grandiosa. O efeito do baixo é agressivo e logo na primeira nota já consegue atrair a atenção do espectador, que provavelmente se esquecerá de tirar a pipoca do microondas ou da cerveja que está ficando congelada. Coisas que apenas os melhores e mais talentosos músicos conseguem fazer. Morricone é um gênio que sabe entrar no filme tão bem quanto o próprio diretor. Sua música ajuda a manter a tensão desejada o tempo inteiro.
Ford vive um médico que viaja com a esposa para Paris e então descobre que ela foi sequestrada. Ele começa a tentar entender o que aconteceu e acaba conhecendo uma provocante “laranja” interpretada por Emmanuelle (boas recordações…) Seigner, que vira sua parceira para tentar resolver todo a situação. A união improvável dos dois personagens gera toda a temática sexual do filme. Como se não bastasse ter a esposa sequestrada, o personagem de Ford acaba criando uma relação curiosa com a garota, que provavelmente teria achado uma excelente ideia transar com o médico, tanto que troca de roupa na frente dele e faz várias caras e bocas que poderiam ser interpretadas como indiretas.
Polanski, que também escreveu o roteiro, é sutil ao apresentar o desespero do personagem de Ford. No começo do filme existe uma bela cena em que ele está tomando banho (porra, gente, não precisa ser mente poluída) e não escuta uma só palavra que a esposa está dizendo. O espectador vê aquela cena sob a perspectiva do médico e também fica sem entender o que aconteceu, o que ela estava dizendo e o que ela foi fazer fora do quarto. Apenas essa cena já poderia ser considerada um dos principais momentos de Busca Frenética, mas a cena ganha ainda mais força com o que vai acontecendo depois, quando o médico descobre que a esposa desapareceu. Ford fica desorientado, pois ele não entende francês e a maioria das pessoas ao seu redor, não fala inglês. Ou seja, como buscar ajuda nessa situação? Pior ainda foi ele entrar numa loja de flores e o vendedor entender que ele está procurando uma rosa.
Para quem ainda não conhece muito do trabalho de Polanski, Busca Frenética é uma boa opção. Além de um roteiro interessante e angustiante, o filme oferece uma mistura muito bem dosada de humor (vide a cena em que Ford está procurando Dede numa boate e um sujeito se aproxima afirmando que pode ajudar), sensualidade exótica (a maneira que Emmanuelle dança me lembrou um episódio de Friends, com a Phoebe tentando seduzir o Chandler) e suspense (com uma cena bem tensa e que provavelmente serviu de inspiração para Johnny Depp em O Turista).
Nota: