JIM JARMUSCH NÃO ESTAVA BRINCANDO QUANDO escreveu Sobre Café e Cigarros. Para ser totalmente justa, o próprio título já explica o conteúdo, e os mais desavisados que esperarem qualquer coisa além disso podem se decepcionar.
A premissa não é de todo ruim: mostrar os bate-papos que ocorrem entre um cigarro e outro, essa e aquela xícara de café. Para isso, Jarmusch escalou um elenco de peso, com nomes como Steve Buscemi, Bill Murray, Roberto Benigni, Cate Blanchett e até os músicos Meg e Jack White, do White Stripes, Tom Waits e Iggy Pop. Para completar, a opção do preto e branco foi uma boa sacada do diretor, pois combina com todo o teor do filme, que se passa, sempre, ao redor de uma mesa de bar, lanchonete ou restaurante.
Em um conjunto de 11 curtas, o diretor e roteirista coloca essa vasta gama de personagens para filosofar à mesa sobre os mais variados temas – da suposta morte do irmão gêmeo de Elvis Presley a picolés de cafeína. São papos entre irmãos, primos, amigos, colegas de profissão, clientes e garçons. Nesse misto, surgem alguns personagens interessantes, como as primas Shelly e Catie, ambas vividas pela sagaz Cate Blanchett.
No entanto, após uma história ou outra, os bate-papos não parecem prender e ficam repetitivos, voltando a pontos como as invenções de Nikola Tesla e que café e cigarros são nocivos à saúde. O diálogo, aliás, é quase o tempo todo desconfortável, intencionalmente. Em alguns casos, funciona. Em outros, fica forçado.
Sobre Café e Cigarros é o que se propõe a ser. Despretensioso – talvez um pouco além da conta.