Shazam! Fúria dos Deuses

O excelente “Shazam!” de 2019 retorna este ano com sua sequência, que acompanha Billy Batson (Asher Angel/Zachary Levy) e seus irmãos adotivos que, agraciados com os poderes dos deuses, estão aprendendo a conciliar a vida de crianças e adolescentes com seus alter egos de super-heróis adultos. Enquanto tentam funcionar como uma equipe e serem aceitos pela população da cidade como heróis, um trio vingativo de deusas chega ao reino dos humanos para buscar a magia roubada delas há muitos anos. Assim, Billy, Freddy (Jack Dylan Grazer/Adam Brody), Mary (Grace Currey), Eugene (Ian Chen/Ross Butler), Pedro (Jovan Armand/D.J. Cotrona) e Darla (Faithe Herman/Meagan Good) são lançados em uma batalha por seus poderes, suas vidas e pelo mundo.

Relatando minha experiência pessoal, eu saí completamente apaixonada do cinema em 2019, quando assisti à “Shazam!”. A sensação imediata era de empolgação e novidade em um gênero tão batido e repetido como o de filmes de heróis. E sempre que conseguem fazer algo assim com esse gênero, vale a pena parar para prestar atenção, como nos excelentes “Guardiões da Galáxia” (2014), Deadpool (2016) e “Coringa” (2019) – memoráveis por motivos completamente diferentes, mas todos inovadores dentro do gênero.

“Shazam!” inovou ao trazer crianças na pele de adultos super-heróis, o que gerou dinâmicas únicas, situações criativas e boas atuações entre os atores mirins e os adultos. A dinâmica da família adotiva com filhos de diferentes etnias e idades, abordando um pouco da adoção pela perspectiva das crianças e dos pais, também trouxe personalidade única e profundidade para o filme.

Em “Shazam! A Fúria dos Deuses”, vemos novamente esses fatores, que continuam no mesmo nível de qualidade e profundidade que no filme anterior. O que acontece, é que talvez essas dinâmicas inovadoras brilhem menos, por, afinal, já terem sido vistas no filme anterior e não poderem contar com o fator novidade. Assim, o filme não traz tanto “frescor” quanto o anterior, sem conseguir contar com tantos novos elementos para gerar tanta empolgação quanto o primeiro.

Mas, não se engane, esta sequência continua apresentando várias qualidades e se enquadrando na lista dos bons filmes do gênero. Consegue ser leve e abordar temas relevantes e ter profundidade. Consegue ser extremamente engraçado e com um bom timing cômico, sem ser bobo demais.

Interessante também foi acompanhar a nova dinâmica entre os irmãos, agora todos com poderes, e toda a disfuncionalidade dessa “equipe”, com a qual pode-se fazer várias analogias ao relacionamento familiar e entre irmãos. Por serem muitos personagens, o roteiro acaba deixando alguns de lado, que tiveram suas histórias apenas pinceladas, para focar em outros.
Assim, o desenvolvimento do Freddy Freeman (interpretado por Jack Dylan Grazer, como adolescente, e por Adam Brody, como adulto) teve, acertadamente, grande foco, até por ter sido um dos melhores personagens do primeiro filme e por sua relação com uma nova e importante personagem. Porém, com tantos personagens interessantes, senti muita vontade de ver mais do restante dos irmãos, que têm carisma o suficiente para conquistar com pouco tempo de tela, mas que foram prejudicados pelo roteiro.

 

Partindo para as antagonistas, por serem deusas, podemos ter alguma dificuldade de identificação com suas motivações, por mais que o roteiro e as atrizes tenham tentado fazê-las mais palpáveis. Mas o mais interessante foi a diferença de atitudes, motivações e personalidade entre as antagonistas, o que foi possível por se tratar de um trio, e trouxe riqueza à trama.

Porém, mesmo com tantos pontos positivos, o segundo capítulo de Shazam peca aonde muitos filmes de heróis e de fantasia pecam: na falta de lógica interna. Eu explico. É claro que os mundos fantasiosos que assistimos no cinema ou na TV não precisam seguir as regras do nosso mundo. Para isso, serve a famosa “suspensão da descrença”, que é quando o espectador, de forma voluntária, aceita premissas que não fazem sentido no mundo real em prol do entretenimento. Porém o roteiro precisa seguir as regras internas do universo que está retratando, ou seja, as regras que já foram apresentadas pelo próprio filme.

Ou seja, se falamos que em um universo, por exemplo, a água queima, um personagem não pode colocar a mão na água sem se queimar. Isso iria contra as regras propostas pelo próprio universo por meio do roteiro. E é aqui que “Shazam! A Fúria dos Deuses” mais se confunde, indo várias vezes contra as regras que ele mesmo estabelece, por pura vontade do roteiro. Isso não foi algo recorrente no primeiro capítulo desta franquia, e aqui atrapalha em partes a experiência.

No balanço geral, essa nova aventura é menos inovadora e menos coesa que a anterior, mas permanece sendo uma boa diversão, com personagens carismáticos, arcos interessantes e outro personagem aclamado da DC aparecendo de surpresa. E pra quem gosta de ficar até o finalzinho, o filme tem duas cenas pós créditos, que mostram um pouco do futuro da franquia.