de Woody Allen. Com: Javier Bardem, Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penélope Cruz, Patricia Clarkson, Kevin Dunn, Chris Messina e a voz de Christopher Evan Welch.
Woody Allen não brinca mesmo em serviço. Foi só ser convidado para escrever uma história que se passasse na Espanha, que entregou Vicky Cristina Barcelona, esse filme delicioso do início ao fim, que nunca cai nos clichês das comédias românticas comumente prodizidas atualmente, graças ao roteiro e interpretações do elenco
O filme conta a história de Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), que vão passar uma temporada de três meses em Barcelona, embora ambas tenham motivações próprias para a viagem: Vicky quer estudar a cultura catalã, e Cristina, ainda sem um rumo mais específico na vida, (mesmo tendo acabado de escrever, dirigir e estrelar um filme de 12 minutos que teria odiado) vai buscar alguma insipiração na cidade.
Em meio a um jantar conhecem o artista plástico Juan Antonio (Javier Bardem) que sem mais delongas as convidam para um fim de semana em Oviedo, uma cidade próxima, onde, depois de conhecerem as maravilhas do lugar e tomar vinho de qualidade, poderiam fazer amor (sim, esta é a proposta de Juan!). Vicky, a mais contida e racional das amigas, acha a proposta absurda, já que além de se sentir tratada como um objeto, está noiva e prestes a se casar com um empresário americano que a ama. Já Cristina se mostra interessada, pois que não pensa duas vezes antes de se arriscar no amor, e não vê problema algum em se atirar de cabeça em um relacionamento, já que esse seria o único jeito de se descobrir se aquele é o verdadeiro amor de sua vida. “Ela não sabe o que quer no amor. Mas já sabe o que não quer o que não é pouca coisa.”, diz a pertinente narração que nos acompanha durante todo o filme, nos deixando a par do que passa pela cabeça dos personagens.
O único problema é que Juan Antonio já foi casado com uma talentosa e temperamental (pra dizer o mínimo) artista, chamada Maria Elena (Penélope Cruz), por quem ainda conserva uma grande admiração, que não hesita em expor, até mesmo para seus flertes. As coisas se complicam então, com o retorno da ex-mulher.
Barcelona parece ser uma cidade de onde ninguém sai ileso, daquelas feitas sob medida para que paixões avassaladoras surjam. E quando vemos aquelas duas mulheres se envolverem de tal forma com aquele homem, conseguimos compreender, que além do talento para a sedução que ele possui, muito se explica pela cidade e seu clima caliente.
Por falar em sedução, é impressionante a forma como Javier Bardem está completamente transformado no galanteador que todo homem gostaria de ser! Diferente de qualquer personagem que ele tenha feito até então, o que Woody parece querer, é mostrar que Juan Antonio pode seduzir qualquer um. Ele sabe como lidar com qualquer tipo de mulher, desde aquelas mais aptas a relacionamentos rápidos – caso de Cristina, até aquelas que buscam relacionamentos com alguma profundidade – caso de Vicky: não é à toa que ele mostra a esta última sua família, os lugares onde vivia na sua infância… Seu objetivo é mostrar para Vicky um lado capaz de comovê-la, e assim conseguir o que pretende com ela. Sua visão de mundo também não deixa de ser interessante: ele não está interessado em negar e vida. Quer vivê-la em todas as suas potencialidades. Por isso não vê nenhum problema em seduzir as mulheres daquela forma, já que só está agindo de acordo com seus desejos (como o diz o cartaz do filme “a vida é a derradeira obra de arte” para ele.)
Scarlett Johansson (e sua costumeira beleza) faz bem o papel de Cristina: embora inconseqüente, ela não se deixa manipular por ninguém e não hesita em romper com uma relação que não trouxe a ela o ideal de amor que buscava. Assim como Rebecca Hall e sua Vicky sempre cheia de dilemas que parecem se solucionar apenas quando a situação chega a um ponto insustentável.
E finalmente temos Penélope Cruz, perfeita como Maria Elena. Sua beleza e talento superam a companheira de cena Johansson. Ela consegue passar da loucura à doçura e sensualidade de uma forma tão sutil e natural… Percebemos que há uma artista com problemas psicológicos ali, mas ao mesmo tempo, é legítimo quando vemos que ela encontrou a paz, e vive em calma com as pessoas que ama.
E mesmo que este não seja o objetivo principal do filme, há uma pergunta sobre o amor que fica no ar, quando vemos as duas mulheres depois da temporada em Barcelona, e de tudo o que viveram ali: será que existe um tipo de amor ideal (como aquele que Juan e Maria sentem um pelo outro, quando não estão próximos), ou a busca por ele é interminável?
Vicky e Cristina demoraram três meses em Barcelona para encontrar suas respostas – e será que encontraram? Não sabemos. Mas se há algo, que motiva as ações não só das duas como também de todos os outros personagens do filme, com toda certeza, é o amor.