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As Mais Belas Histórias de Amor do Cinema: Reconstrução de um Amor

Reconstrução de um Amor(Reconstruction) De Christoffer Boe. Com: Nikolaj Lie Kaas, Maria Bonnevie, Krister Henriksson, Nicolas Bro, Peter Steen, Ida Dwinger, Malene Schwartz e Helle Fagralid

A todo o momento somos alertados de que se trata de uma ficção. Mas que nem por isso o que vemos é menos doloroso. Este já é o começo de Reconstrução de um Amor, filme dinamarquês de Cristtopher Boe, que conta a história de um amor que se perde e que tenta se reencontrar, ou para aludir ao nome do filme, se reconstruir. Será isso possível?

O estilo do diretor nos remete ao cinema de Wong Kar-Wai, ou ao clima onírico de Michel Gondry, com um toque de cinema independente europeu. Tantas referências podem confundir a princípio. Mas a intenção aqui nunca é ser linear ou real de fato. Boe declarou em algumas entrevistas que a intenção era realizar um filme onde a possibilidade de sonho fosse maior que a realidade. Onde a análise do espectador fosse a mais livre possível, e que ele próprio construísse seu filme que se tornaria então único.

O filme por mim construído é este: Alex (Nikolaj Lie Kaas) conhece Aimee que por sua vez é casada com August (Krister Henriksson). Entretanto Alex namora Simone que lhe oferece amor incondicional, embora este não esteja de fato empolgado com o relacionamento.Quando Alex finalmente se envolve com Aimee, as coisas mudam: ninguém mais o reconhece, a casa onde vivia com Simone deixa de existir… Nas palavras do narrador do filme “é o começo e o fim”: o começo de uma nova relação com Aimee, mas o fim da vida que levava com Simone, embora aqui o fim seja visto de uma forma radical, como o fim de todos os laços e ligações com Simone. Ela já não o reconhece mais, sua vida se foi. É como se a traição fosse o desaparecimento de tudo aquilo que vinha sendo contruído, de forma que não se pode voltar atrás. Não de uma forma fácil. É interessante a surpresa ao não ser reconhecido por seus amigos, pela zeladora do prédio ou até mesmo por Simone: Alex pensava que tudo ia continuar como estava?

Mas se pensarmos com o filme é disso mesmo que se trata: após uma traição, o relacionamento nunca continua sendo o mesmo… Aquela pessoa que antes amávamos (não que deixemos de amá-la) nos deixa ver um lado que antes não conhecíamos: aquele que mostra o quanto qualquer sentimento por mais sólido que possa parecer é na verdade frágil. Como ele pode se perder a qualquer instante. E como mesmo com o esforço de ambos, nada será com antes.

Outro dado interessante que nos leva a pensar sobre o filme é o fato que de Aimee e Simone são interpretadas pela mesma atriz (a belíssima Maria Bonnevie): será que uma seria o que falta na outra? A beleza estonteante, magnética, a paixão fugaz; a beleza contida mas pronta a oferecer o amor sincero e gratuito a ponto de se negar a enxergar a não-retribuição desse sentimento (ao responder a seu sogro sobre o sentimento de Alex, Simone não responde com certeza: é uma certeza à qual ela se apega para levar o amor a diante). Cada uma tem o que Alex procura. Mas em mulheres diferentes…

E o que dizer de August, um escritor que com um romance em desenvolvimento acaba sendo um pouco ausente em seu casamento com Aimee? Seus compromissos não permitem que dê atenção o suficiente a ela, embora ela esteja sempre presente no universo próprio de sua criação, que de uma forma ou de outra influencia no andamento do romance escrito ou até mesmo do filme que vemos.

No fim das contas não temos a sensação de ter visto uma história de amor (diferentemente do que propõe o título desta seção), mas é como se víssemos uma fábula sobre o amor e a forma como ele acaba funcionando como um refúgio para nossas inseguranças e até mesmo nossa incompletude. Por isso esta necessidade tão grande de “amar”. Só que nunca contamos com a fugacidade desse sentimento (“ele pensou que me amava…” diz Aimee depois de um de seus encontros com Alex, já em outro contexto, o que torna sua fala ainda mais irônica). Quando a gente percebe, é um círculo vicioso… Mas não temos escolha. É nos pequenos momentos de felicidade que o amor nos proporciona que nos prendemos sempre. Como na fala de Anthony em uma de suas entrevistas: “Seja como objetivo ou como meio, o amor é necessário”