O Último Tango em Paris (Ultimo Tango a Parigi) De Bernardo Bertolucci. Com: Marlon Brando, Maria Schneider, Jean-Pierre Léaud.
O limite entre amor, dependência, loucura e fuga são explorados neste O Último Tango em Paris, clássico de 1972 de Bernardo Bertolucci (aquele de Os Sonhadores, igualmente sensacional). Aqui portanto o amor não é tratado de forma convencional, assim como a relação que se inicia entre um americano (Marlon Brando) e uma francesa (Maria Schneider) que se conhecem quando ela procura um apartamento. Por uma coincidência se cruzam. A atração é instantânea e eles logo estabelecem uma ligação baseada no sexo e na satisfação dos desejos mais incomuns. Não há regras ou proibições a não ser aquela que diz que não devem em hipótese alguma revelar seus nomes.
Se nomear é dominar, a premissa do trato é válida já que ele acaba de sair de um casamento que terminou em situações trágicas. Ela está prestes a se casar com um homem que queria amar, mas não consegue. Falta-lhe o que ela encontra nesse perturbado mas atraente americano: uma relação íntima a ponto de não sair dos domínios daquele apartamento (já que o namorado insiste em filmar cada momento de seus encontros, afim de realizar um filme sobre os dois).
O dado da liberdade acaba quando ela se vê envolvida de modo tal, que a despeito de sua resistência já não consegue viver sem aquele homem, já não pode resistir ao que ele propõe, e algumas vezes impõe. Mas se o outro só faz conosco aquilo que permitimos, o limite entre a subsmissão e entrega já está tênue demais.
Sim, as cenas são fortes (o filme foi proibido na época aqui no Brasil). Mas são tão belas e poéticas que é difícil pensar no filme sem elas. A quebra de regras afinal de contas, não pode se dar de forma menos chocante. Exemplodisso é a ironia do personagem de Brando, quando sodomiza a amante utilizando uma manteiga, enquanto diz algo como: “Vou falar-lhe de segredos de famíla, essa sagrada instituição que pretende incutir virtude em selvagens. Repita o que vou dizer: sagrada família, teto de bons cidadãos. Diga! As crianças são torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo. Família, porra de família!“. Coragem de realizar cena como esta sobrou a Bertolucci. Mais ainda aos atores ao encená-la.
Falar do elenco deste filme é falar de Marlon Brando. Mas o que falar sobre ele? Ao ver O Último Tango em Paris não há como não imaginar a personalidade magnética desta figura, consciente deste personagem de tal modo, que suas improvisações (coisa típica do ator) são completamente relevantes para a história. Assim como as tais cenas fortes são fundamentais para o filme, Brando também o é. Ele é sensacional. Emociona vê-lo em cena (especial Marlon Brando?!). Sua conversa com o amante de sua esposa, e principalmente a cena em que desaba, fraco, destruído, ao lado do cadáver da sua esposa, cujo ato nunca compreenderá (ela cometera suicídio repentinamente) é de aplaudir de pé. Fantástico.
O jogo de luzes e sombras, que escondem e revelam, movimentam os atores por entre os cômodos e aposentos aos quais estão presos (é sempre um clima clautrofóbico no ar)… Tudo perfeitamente orquestrado por Bertolucci.
E como não poderia deixar de ser, o fim da relação. Não haveria outra alternativa para ambos.E já que ela não o conhece (pelo menos não conhece Paul, aquele submetido às regras e convenções sociais, que abandona depois da traumática morte da mulher que amou) suas ligações com ele podem ser mais facilmente cortadas. É amor em toda a sua potencialidade. Até aquela mais destrutiva. Assistam.