VER CHARLES CHAPLIN VELHO É UMA EXPERIÊNCIA DIFERENTE. Sua imagem icônica, de chapeu côco e bigodinho preto, vem da sua época de Vagabundo, como nos brilhantes “Em Busca do Ouro”, “Luzes da Cidade” ou “Tempos Modernos”. Em “Luzes da Ribalta” ele não está tão velhinho quanto quando recebeu seu Oscar honorário, aos 83 anos, mas a cabeça branca denuncia que ele não é mais o Carlitos de outrora.
E é exatamente disso que o filme trata: Chaplin vive Calvero, um comediante em decadência que tenta se reerguer nos palcos, enquanto conhece uma bailarina que ele salva de uma tentativa de suicídio. Um filme belíssimo, embora não seja exatamente uma comédia e, também por isso, não seja indicado pra quem quer começar agora na obra do cara. Calvero é um reflexo do próprio Chaplin e a luta do personagem para voltar à tona tem muito de seu intérprete – mais ou menos como Mickey Rourke fez recentemente em “O Lutador”.
Como de hábito, Charlie fez de tudo: escreveu, dirigiu, produziu, atuou e até compôs a trilha sonora, que ganhou o único Oscar da carreira de Chaplin além do honorário. Claire Bloom, hoje uma senhora de 78 anos e ainda na ativa, faz o papel da bailarina Thereza, e o filho de Chaplin, Sydney – que morreu há duas semanas, no último dia 3 de março – vive o pianista Neville. Mas a participação mais importante de “Luzes da Ribalta” é do grande Buster Keaton, célebre ator-diretor-escritor da era do cinema mudo, que contracena com Chaplin na cena final.
Foi a única vez em que atuaram juntos, mas sempre foram amigos, ao contrário do que pensam certos fãs de um ou de outro, sedentos por encontrar uma rivalidade que nunca existiu. (Assim como a velha disputa entre Beatles e Rolling Stones, quando os membros das duas bandas eram chapas de longa data.) Pra quem conhece pouco da obra de Keaton – e ele é mesmo, atualmente, menos conhecido que Charlie, mas na era de ouro eram os dois igualmente famosos – sugiro “A General” (The General, 1927), que sempre entra nas listas de melhores de todos os tempos. Assistir aos dois finalmente juntos é um fechamento emocionante de um longa fantástico, que mesmo não sendo o último de Chaplin, soa como um último filme que não poderia ser de outro jeito. Recomendado é pouco.
A trilha sonora:
Limelight, 1952
Direção de Charles Chaplin