Encontros e Desencontros (Lost in translation). De Sofia Coppola. Com: Bill Murray, Scarlett Johansson, Giovanni Ribisi, Anna Faris, Akiko Takeshita, Catherine Lambert.
Um astro de cinema aposentado que se vira sendo garoto propaganda de uma marca de uísque, e uma filósofa casada com um marido egocêntrico e narcisista encontram-se em Tóquio por acaso e desenvolvem uma delicada relação, quase que indefinível (falo sobre iso daqui a pouco).
Possível? Na cabeça de Sofia Coppola sim. Juntando esses dois improváveis personagens, temos
Encontros e Desencontros (péssima tradução para Lost in Translation), a segunda incursão de ‘coppolinha’ no cinema, já tida como uma pequena obra prima, que fala sobre a dificuldade de se comunicar, própria do ser humano, e de como os verdadeiros amores surgem de forma improvável, mas nunca forçada ou boba.
Bob (Bill Murray) foi um ator de sucesso na década de 70, que agora está em Tóquio para “tirar férias da mulher, faltar ao aniversário do filho, ganhar 2 milhões de dólares para vender um uísque, quando poderia estar fazendo uma peça”, diz ele, logo que encontra Charlotte (Scarlett Johansson) em um bar. A identificação dos dois é imediata. Talvez devido ao fato de que ela também não está na mais confortável das situações em Tóquio: foi acompanhar seu marido, que está na cidade para fotografar uma banda de rock, e se sente sozinha na maioria do tempo.
O filme de Coppola tem tantas camadas, tantos significados, explorados de uma forma tão sutil e harmônica, que fica difícil escolher um foco. Não é apenas sobre o casal que se envolve em uma cidade ‘inóspita’. O olhar que a câmera de Coppola (que constuma operá-la junto com seu irmão Roman) nos empresta é o olhar de dois estranhos em meio a uma cidade infinitamente movimentada, em contraposição à solidão que sentem.
Outro ponto em comum entre os protagonistas é a sua falta de direção perante a vida. Embora ele seja praticamente um senhor experiente e casado à 25 anos, e ela casada a 2 anos apenas e ainda recém formada em filosofia, os dois estão perdidos! Nenhum dos dois está fazendo o que queria na verdade. Ela com o espírito próprio dos jovens que se vêem com todas as possibilidades esgotadas, mesmo tendo a vida toda pela frente, e ele, já tendo vivido muitas coisas, inclusive ao lado de sua mulher com quem já foi feliz, mas que não pode fazer nada senão se conformar com a vida vazia que vive. O que eles precisam, como diz o cartaz do filme é de serem ‘achados’…
A ligação entre os dois vai surgindo na medida em que suas conversas acontecem. Confissões descompromissadas fazem deles dois cúmplices, como se fossem tudo que eles têm no momento. E novamente isso é mostrado de uma forma sempre sutil por Sofia (como na cena em que Bob percebe que Charlotte está com o dedo machucado, sendo que nem o marido da moça teve a atenção de reparar…). E a química entre os dois atores contribui para nossa identificação com os personagens, e para que possamos torcer pelo destino dos dois. É quase certeza que Sofia escreveu o papel de Bob pensando em Murray como intérprete, dado o teor muitas vezes cômico do texto (que ganhou o Oscar de melhor roteiro original), e provavelmente houve uma abertura por parte da diretora para que o casal improvisasse.
Nunca expressando seus sentimentos de uma forma muito clara, embora não seja necessário (a bela cena em que conversam sonolentos, deitados na cama já é clara o suficiente: é um casal apaixonado!), acompanhamos o crescimento do sentimento de ambos, e assim, ao final do filme, tudo o que queremos é que fiquem juntos, como se tivessem sido feitos um para o outro. E na cena final, quando ele a chama em meio a multidão, e quando ela responde quase instantaneamente como se já esperasse por ele, compreendemos que há conexão tão bonita e profunda entre eles, que é algo que vai além de amor. Sim! Aqui cabem duas perguntas:
1º: O que todos procuram em um relacionamento? E o que os seus respectivos parceiros julgam fazer para suprir isto? (Mandar modelos de carpete? Ou dizer “eu te amo” de uma forma vazia?)
2º: O que eles sentem um pelo outro pode mesmo ser chamado de amor? Ou (o que eu acho) se trata de um afeto bem mais altruísta, onde não se exige do outro mais do que ele pode oferecer no momento (e isso, definitivamente não é o tal do amor…)? Tenho minhas respostas, mas prefiro guardá-las pra mim no momento… Ponto também para a Edição, e, é claro, marca registrada de Sofia, para a trilha sonora (o final com Air é lindo…)
Já vi que temos posts sobre PS. Eu te amo à vista, mas já vou adiantando que, um filme de romance competente quando se trata de comover o espectador quanto ao relacionamento do ‘casal’ protagonista sem apelar pra truques fáceis, é Encontros e Desencontros… E tenho dito!! Não que não goste de PS., mas é por outros motivos…
(O próximo da lista é Antes do Amanhecer e Antes do Pôr do Sol. Até lá!)
OBS.: É fato que esta não é uma lista ou seleção que se pretenda absoluta ou a palavra final no que se trata de filmes românticos. São só aqueles que vi, que me lembro e que acho massa. E não. Não vai ter “PS. Eu te amo“. Vamo lá então…