crítica de brilho eterno de uma mente sem lembranças

Crítica: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004)

5 - Brilho Eterno de Uma Mente Sem LembrancasEU, TULLIO DIAS, QUERO APAGAR EX-NAMORADA DA MEMÓRIA. Existiu um tempo em que a ideia de existir algo semelhante ao que o roteirista Charlie Kaufman e o diretor Michel Gondry oferecem em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) era tentadora.

Apagar de nós qualquer lembrança de um relacionamento ruim? Conseguir esquecer todas as noites em claro por causa de uma briga? Deixar de se importar com as ofensas ou agressões como se nunca tivessem acontecido? Nunca mais deixar escorrer uma lágrima que seja por causa dela? Uau. Isso seria realmente atrativo.

No entanto, a ideia era atraente quando a única coisa que passava pela minha cabeça era acabar com a dor da forma mais rápida – e por que não covarde? – possível. Ninguém quer sentir dor. Foda-se esse papo que é na dor que a gente aprende. Quando acontece conosco, queremos apenas que ela acabe logo.

Hoje não sei se a ideia de tratar um relacionamento como se nunca tivesse existido é tão atraente assim. O roteiro do longa-metragem deixa isso bem evidente, claro, e passa a mensagem que certas vezes é necessário superar todas as dificuldades para tornar possível a felicidade a dois. Isso significa aceitar a dor, as brigas, as lágrimas e a tristeza. Acima de tudo também significa aceitar a si mesmo.

Quando Joel (Jim Carrey) toma a decisão de apagar seu namoro caótico com Clementine (Kate Winslet), ele logo percebe que está apagando a si mesmo. Que ilusão achar que apenas a outra parte tem culpa na nossa tristeza e pelo fracasso do relacionamento! Nós todos precisamos assumir nosso protagonismo nessa jornada de encontrar culpados sem bancar o Homer Simpson.

No meio do processo de danos cerebrais permanentes causados pela tecnologia da empresa favorita de quem tem coração partido, Joel começa a entender que apagar a memória e a dor significaria que uma parte muito importante de si mesmo deixaria de existir, pois amar alguém ao ponto de compartilhar sua vida significa que você se torna um pouco da pessoa. E vice-versa.

Joel consegue descobrir que mesmo a tristeza preserva ensinamentos e uma beleza única que merece ser guardada com carinho dentro de nossos corações. O mais curioso é que a mensagem da obra é que quando as coisas precisam acontecer, não existe tecnologia capaz de mudar isso. Não importa se você teve um dano cerebral: essa pessoa continuará fazendo parte de sua vida e vocês terão que se entender.

De certa forma, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é tanto sobre segundas chances quanto como uma espécie de “reencarnação da mente”. Apaga-se o passado e vive-se o presente mais uma vez para tentar acertar desta vez.

Eleito pelo Cinema de Buteco como um dos 51 filmes mais românticos de todos os tempos, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é um daqueles exemplos de produções que durante anos tentamos encontrar algo para dizer sem sucesso. Até que chega um belo dia em que acontece. É sempre assim com os nossos favoritos, não é mesmo?