Quando começaram a aparecer os primeiros boatos de Amor Sem Escalas, pensei que seria uma comédia romântica inteligente. Tudo conspirava a favor: da presença do astro George Clooney até o talentoso diretor Jason Reitman. Depois que vi o primeiro trailer, comecei a ouvir um monte de comentários dizendo que George Clooney seria indicado e venceria o Oscar, que a bela atriz Vera Farmiga também seria indicada e que seria a vez de Jason Reitman levar o prêmio para a casa (claro que ninguém estava lembrando de James Cameron e seu Avatar quando soltaram essa). Ou seja, foi criada uma enorme expectativa para o filme e como vocês, fieis leitores, bem sabem, eu não sou muito fã de filmes que criam tanta expectativa. Odeio ver um filme e sair do cinema sem ficar satisfeito com o resultado, ficando com aquele gostinho de quero mais. Porém não foi o que aconteceu comigo depois de assistir Amor sem Escalas.
Apesar de ter uma trilha sonora incrível com muitos exemplos de funks antigos, o que realmente sustenta o novo filme do diretor de Juno é a atuação da dupla George Clooney e Vera Farmiga. Anna Kendrick até aparece bem, embora seja meio caricata quando começa a chorar (o que chega a ser engraçado de tão tosco. lembrou bastante o tipo de showzinho que as patricinhas costumam dar para conseguir atenção) depois que o namorado resolve terminar o relacionamento. Já Farmiga consegue mostrar que é bem mais que um rostinho bonito e dá um show que chega QUASE a ofuscar seu parceiro. Ela consegue dar a maturidade e segurança de uma mulher independente e bem sucedida, que não precisa se apegar a nada que não seja a si mesma. Ela é exatamente a versão feminina do personagem de Clooney, que lentamente acaba se apaixonando e mudando seus conceitos, desejando, finalmente, ter um relacionamento com alguém que não seja sua própria mala de viagens.
O que mais surpreende em Amor sem Escalas é a coragem de Jason Reitman em fazer um filme tão cru e real. George Clooney e seu Ryan Bingham passam o filme inteiro dando demonstrações de devoção ao tratamento especial que o personagem recebe das empresas. Bingham coleciona diversos cartões de fidelidade e valoriza estes detalhes mais do que a própria família ou a possibilidade de se apegar a uma pessoa ou um lugar. Como passa a maior parte do tempo viajando, o aeroporto é um lugar familiar. É como se fosse a sua casa. Durante as palestras motivacionais que ministra, ele pergunta aos seus ouvintes qual é o peso da mala que eles carregam. E indica que até mesmo as pessoas são descartáveis e que é possível ser feliz sem se apegar. Claro que durante o desenvolvimento da história, ele percebe que existem coisas boas em querer amadurecer e se relacionar. O problema é que Bingham ficou tempo demais alheio ao mundo e nem mesmo sua irmã (que é responsável, indiretamente, por alguns dos momentos mais engraçados do filme) quer a sua companhia. Quando ele tenta mudar já é tarde demais ou as coisas acabam não saindo do jeito que ele pensava que seriam. Ou seja, o personagem é um retrato do que pode acontecer (ou já aconteceu) com qualquer pessoa.
Se você estiver cansado de ver filmes que tentam fantasiar sobre a vida real, este é o melhor exemplo disponível dos últimos meses. Jason Reitman pode não ter feito um filme sensacional, mas graças às atuações de Clooney e Vera Farmiga, Amor sem Escalas merece um pouco de atenção. Nem que seja só para ouvir as músicas ou ficar encantado com o charme de Clooney (quero ser como ele quando eu crescer) na telona. São quatro caipirinhas muito dignas!
Amor sem Escalas (Up in The Air , 2009)
Dirigido: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman e Sheldon Turner, baseado em livro de Walter Kirn
Genêro: Drama
Elenco: George Clooney
Trailer: