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Review Sorria 2: Sequência mantém o terror, mas abusa do caos visual e repete fórmulas

poster sorria 2Logo de cara, Sorria 2 não perde tempo para mostrar que Parker Finn não está de brincadeira nesta sequência. O filme já começa no caos, colocando o espectador de volta à perspectiva desesperada de Joel (Kyle Gallner), ex-policial e agora amaldiçoado com o mesmo sorriso demoníaco que fechou o primeiro longa. A câmera de Finn, ágil e frenética, constrói perfeitamente o sentimento predominante da obra: pânico. Quando os créditos iniciais surgem na tela, já sabemos que o objetivo é agarrar o público pela garganta mais uma vez.

O foco então muda para uma nova protagonista, Skye Riley (Naomi Scott), uma estrela pop mundialmente famosa tentando se reerguer após um ano afastada devido a um acidente trágico. Aqui, Finn brinca com a pressão da fama e o espetáculo público das redes sociais, ambientando seu horror no glamouroso e ao mesmo tempo sufocante universo do estrelato musical. Isso serve para dar um toque fresco à franquia, trocando o ambiente mais comum do original — um consultório e a rotina de uma terapeuta — por algo muito mais extravagante e ao mesmo tempo inóspito.

No entanto, se por um lado a escolha de cenário é bem-vinda e há uma crítica interessante ao culto à celebridade, por outro, a trama de Skye cai no clichê da “pornografia do trauma”, algo que já vimos inúmeras vezes no terror moderno. O que a salva é a performance surpreendente de Scott. Em um papel que exige tanto vocalmente quanto fisicamente, ela é capaz de transitar do brilho de uma estrela pop no palco ao terror absoluto de uma mulher à beira do colapso com uma habilidade impressionante.

Visualmente, Sorria 2 mantém o padrão do original, mas expande seu escopo com um orçamento claramente maior. Finn reutiliza o famoso plano da cidade de cabeça para baixo, desta vez em escala maior, e brinca bastante com o movimento da câmera para refletir o caos crescente na vida de Skye. No entanto, o abuso desses ângulos acaba por tornar a repetição cansativa. Se o caos é constante, ele perde o impacto. O efeito é o mesmo que viver numa casa em constante desordem — depois de um tempo, você simplesmente para de notar.

Por outro lado, a cinematografia de Charlie Sarroff compensa o excesso de movimento. O uso de sombras escuras e iluminação sombria nas cenas dentro do apartamento de Riley cria uma sensação palpável de que o perigo espreita a cada esquina. Já a trilha sonora de Cristobal Tapia de Veer é um verdadeiro triunfo. Esqueça música convencional: aqui temos uma sinfonia de sons desconcertantes, gritos humanos distorcidos e ruídos inquietantes que elevam a tensão a níveis quase insuportáveis.

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A grande questão para qualquer sequência de terror é se ela consegue manter o medo original. E a resposta aqui é um sonoro “sim”. Finn ainda domina a construção do suspense, mas desta vez ele se permite ir mais longe na violência gráfica, empurrando os limites do que vimos no primeiro filme. A sequência mais brutal envolve uma morte horrível com uma barra de levantamento de peso, uma cena tão grotesca que você sente o impacto no próprio estômago.

Apesar de seus pontos fortes, o roteiro de Sorria 2 peca por repetir algumas das mesmas batidas narrativas do primeiro. O sorriso demoníaco ainda serve como uma metáfora eficaz para depressão e trauma, mas faltou uma exploração de novas camadas. A obra caminha por terrenos já conhecidos, sem ousar tanto quanto poderia. Ainda assim, o equilíbrio entre o horror psicológico e o sobrenatural é bem executado, e a mistura de humor ácido (algo que o longa abraça ainda mais desta vez) traz uma leveza necessária em meio à carnificina.

No fim das contas, Sorria 2 é uma sequência digna, que não apenas se apoia no sucesso do original, mas também tentar trilhar um novo caminho. Embora não seja revolucionário, ele mostra que Finn não está apenas buscando um lucro fácil — há cuidado e intenção em como ele expande seu universo. E com o gancho deixado para uma possível continuação, é certo que esse sorriso demoníaco ainda não terminou sua jornada nas telonas.