O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de O Jogo da Morte possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
NO CADA VEZ MAIS DISTANTE ANO DE 2016, um jogo chamado Baleia Azul deixou famílias de cabelo em pé. Isso aconteceu porque os jogadores acabam mortos em acidentes bizarros ou suicídios. Para quem tinha filhos adolescentes, o período foi um pesadelo. Especialmente porque a preocupação paternal era motivo de piada entre os jovens, que estavam levando tudo na maior brincadeira. Sabe como é. O pouco cérebro de um adolescente está sempre ocupado com os seus hormônios.
Quase dez anos depois da febre, tal qual um autêntico monstro de cinema de horror, algum cineasta teve a ideia brilhante (ou nem tanto) de levar essa história para os cinemas. O Jogo da Morte (YA idu igrat, Anna Zaytseva, 2021) usa o jogo da Baleia Azul como ponto de partida para a “investigação” de uma adolescente, que tenta identificar os responsáveis pela morte da irmã.
Infelizmente (ou não), não me recordo exatamente de quais foram as produções russas a que assisti recentemente. Em comum, todas elas são genéricas. Seja na direção, elenco, roteiro e produção, nada salta aos olhos. Se desconsiderar atuações ou escolhas do roteiro, tudo é tão frio quanto morar na Sibéria. O Jogo da Morte não escapa disso e por mais que seja interessante dentro das suas escolhas narrativas, deixa a desejar.
A narração é toda baseada em telas: do computador para o celular, os responsáveis tentaram criar uma experiência imersiva. A grande graça está em questionar se é mesmo tão absurdo ver uma pessoa usando o smartphone o tempo inteiro durante situações arriscadas. O filme é feito de uma forma precária que estimula acreditarmos que sim. Porém, com um pouco de boa vontade, podemos aceitar o quanto nos tornamos reféns das telas de computadores e celulares.
O princípio básico de um filme é envolver o seu espectador. Exceto por produções de caráter experimental ou “de arte” (seja lá o que isso significar), a imensa maioria dos lançamentos que chegam no circuito seguem uma mesma estrutura. Isso acontece porque sem empatia com os personagens, o público não vai se conectar. Sem sentir preocupação ou medo pelo futuro dos protagonistas, fica praticamente impossível levar uma produção de terror à sério. Mesmo as piores trabalham nessa construção. Aqui é tudo deixado de lado com os personagens adolescentes mais chatos já nascidos na Rússia.
O Jogo da Morte poderia ter segurado a mão e escolhido um caminho menos óbvio. A partir do momento em que o namoradinho da protagonista se revela como o grande responsável pelo jogo e suas consequências fatais, é como se alguém tivesse derrubado um piano comunista na cabeça do Putin e usasse os dentes dele para substituir as teclas do instrumento.
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