Existe um limite entre proteger seus filhos e transformá-los em reféns da sua própria paranoia. Não Solte! (ou Never Let Go, no original) entra nessa discussão com a sutileza de uma britadeira operando dentro de uma capela. Dirigido por Alexandre Aja, o mesmo de Crawl e Viagem Maldita, o filme tenta ser uma mistura de Um Lugar Silencioso com Mãe! do Darren Aronofsky, só que no lugar da reflexão profunda, o que sobra mesmo é uma corda metafórica (e literal) que vai se enrolando no próprio roteiro.
A sinopse promete: uma mãe (Halle Berry, que entrega o que pode com o que dão a ela) vive isolada numa cabana com seus dois filhos, Nolan e Samuel, seguindo regras estritas para se proteger de um “mal” invisível que só ela enxerga. A principal? Não soltar a corda que os liga à segurança da casa. Aja usa esse setup claustrofóbico como um palco para questionar: o que é real? E o que é só fruto de trauma e pânico? E o mais importante: por que diabos ainda estamos usando CGI que parece saído de um disquete?
O início do filme empolga. Tem aquele clima de “socorro, tudo é perigoso”, uma mãe surtada que acredita estar enfrentando entidades sobrenaturais e crianças obedientes (por enquanto). Mas logo fica claro que a grande questão é: isso tudo é verdade ou é só uma sessão longa demais de terapia não resolvida? Parece até que Aja estava indeciso entre fazer um Corra! sobrenatural ou um drama indie com twist de sanidade questionável, e decidiu tentar os dois. Spoiler: não dá certo.
A atuação de Halle Berry é competente, mas engessada. Ela tem bons momentos, mas o roteiro não lhe dá espaço para mergulhar nas complexidades da personagem. A mãe poderia ser uma figura trágica, assombrada por um passado de abusos e perdas, mas o filme prefere tratá-la como uma paranoica funcional com uma corda de escalada como brinquedo preferido. Os filhos, interpretados por Percy Daggs IV e Anthony B. Jenkins, são surpreendentemente bons, entregando emoção e conflito interno sem parecer que estão decorando falas no recreio.
Visualmente, Não Solte! até tenta. Aja sabe montar cenas tensas, usando sombras, janelas e trilha sonora para sugerir ameaças. Mas uma hora a gente cansa de ver a mesma floresta, a mesma cabana escura e a mesma expressão de “será que estou ficando louca ou é real?”. O filme parece preso em um looping narrativo: toda hora alguém quebra uma regra, tem uma visão, passa mal, corta a corda e repete.
E o terceiro ato… ah, o terceiro ato. Quando o filme deveria responder alguma coisa, ele simplesmente joga uma criatura digital cafona no meio da tela, como se tivesse sido criada num software de 2006. A intenção é fazer uma grande revelação, mas o que acontece é uma mistura de risada e frustração. O suposto “clímax” é tão aleatório quanto um reality show às 3 da manhã: você vê, mas não entende por quê.
No fim das contas, Não Solte! quer ser muita coisa: um terror sobre maternidade obsessiva, um thriller sobre isolamento, um ensaio sobre paranoia coletiva, um estudo sobre fé e sobrevivência. Mas como dizem por aí: quem abraça tudo, não segura nada. E talvez, nesse caso, o filme devesse ter soltado a corda antes de se embaraçar tanto.
Se você quer um terror para pensar, talvez esse não seja o melhor exemplo. Mas se você gosta de ver Halle Berry lutando contra entidades invisíveis enquanto grita para seus filhos não largarem uma corda como se fosse uma rave metafísica, então Não Solte! pode ser o seu passatempo ideal de fim de semana. Só não espere sair dele com respostas. Aliás, é melhor nem esperar muita coisa.