Se você achou que ser explorado no trabalho era ruim, espere até ver Mickey 17. Bong Joon-ho, o gênio por trás de Parasita e O Expresso do Amanhã, volta ao sci-fi com uma sátira ácida que mistura clonagem, exploração e um Robert Pattinson que, por algum motivo hilário, decidiu canalizar Steve Buscemi em Fargo.
O filme nos apresenta Mickey Barnes (Robert Pattinson), um “Expendable” – ou seja, um funcionário descartável em uma missão de colonização espacial. Seu trabalho? Fazer as tarefas mais mortais possíveis e, quando inevitavelmente morrer, ser reimpresso em um novo corpo, com todas as suas memórias intactas. Os minutos iniciais são uma aula de como criticar o mercado de trabalho de forma exagerada e divertida. Bong Joon-ho deixa claro que, para o sistema, trabalhadores são peças substituíveis, algo que deixaria Ken Loach orgulhoso. O absurdo da premissa não é só para gerar risadas – é um soco no estômago sobre o quão cruel o mundo corporativo pode ser.
Pattinson já provou que gosta de papéis bizarros, mas aqui ele se supera. Seu Mickey tem uma voz que soa como se Steve Buscemi tivesse sido jogado no espaço – uma escolha esquisita, porém genial. O contraste entre a precariedade de seu trabalho e sua falta de noção torna tudo ainda mais engraçado. A situação se complica quando Mickey 17, dado como morto, reaparece ao mesmo tempo que Mickey 18 é impresso. Agora existem dois deles, e um está prestes a surtar. Bong usa essa duplicidade para brincar com identidade, consciência e, claro, a ideia de que o capitalismo nem se importa se você está morto ou vivo – desde que alguém esteja trabalhando.
Se Pattinson brilha, Mark Ruffalo rouba o show. Ele interpreta Kenneth Marshall, um líder político transformado em colonizador espacial que quer criar um “paraíso branco e puro” em outro planeta. Seu jeito de falar e agir é tão exagerado que fica difícil decidir se você deve rir ou temer. O cara parece um CEO de startup que perdeu a noção da realidade, e isso encaixa perfeitamente no tom do filme. O elenco ainda conta com Naomi Ackie como Nasha, a namorada de Mickey (sim, os dois Mickeys brigam por ela), e Toni Collette como uma vilã deliciosamente insuportável que está mais preocupada com o molho perfeito do que com a sobrevivência da tripulação.
Visualmente, Mickey 17 é um espetáculo. Desde os escritórios claustrofóbicos da Terra, que lembram Metrópolis, até as cavernas azul-safira do planeta Niflheim, tudo é impecável. Bong Joon-ho brinca com a estética distópica de um jeito que só ele consegue, fazendo um futuro sujo e ultratecnológico parecer assustadoramente plausível. O filme entrega sátira social, ação e comédia com um timing perfeito. Pode não ser tão refinado quanto Parasita, mas tem energia de sobra e um humor absurdo que faz valer cada minuto. Além disso, ver Robert Pattinson imitando Steve Buscemi e Mark Ruffalo falando como um fanático alucinado já é motivo suficiente para dar uma chance. Agora me conta: você já assistiu Mickey 17? O que achou? Deixe seu comentário e até a próxima!