O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica do filme Matador de Aluguel possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
O UFC FOI UMA FEBRE IMENSA NO COMEÇO DOS ANOS 2010. Até eu, que aprecio tênis e jogos do Galo, costumava assistir às lutas com o meu avô. Inclusive, cheguei até mesmo a ir em uma edição do UFC em Belo Horizonte. Foi uma experiência curiosa. O mais esperto que espero chegar de sentir a energia dos gladiadores do Coliseu. Era um ambiente onde a violência era civilizada e incentivada nos gritos de “uh, vai morrer”. Enfim.
Matador de Aluguel (Road House, Doug Liman, 2024) é uma obra que pega bastante do universo do UFC. Não apenas pelo seu protagonista vivido por Jake Gyllenhaal ser um ex-lutador, mas por colocar a porradaria como verdadeira atração do filme. A trama acompanha a vida de Elwood Dalton, um cara que ganha a vida batendo nas pessoas em ringues amadores. Ele é contratado para ser o segurança de uma taberna que está passando por dificuldades com seus clientes. Lá ele precisa confrontar um bando de arruaceiros contratados por um ricaço para tocar o terror no lugar.
Remake de um longa estrelado por Patrick Swayze em 1989, a releitura é desprovida de charme. É um filme de ação encardido, genérico, que deixa a gente se perguntando quantas vezes viu uma história parecida. O original não é exatamente uma obra de arte, mas até hoje é uma opção de entretenimento inteligente e divertido. Liman até constrói um filme competente para fãs de ação, mas é raso. Seus personagens são caricaturas que vivem em um universo paralelo em que faz sentido um segurança quebrar a cara das pessoas sem suar, tal qual Roger Federer em suas partidas de tênis em Wimbledon.
Por exemplo, ver o lutador de UFC Conor Mcgregor em cena é uma imensa tortura. Podemos dividir Matador de Aluguel em dois filmes: uma divertida comédia de ação e uma galhofa completa digna da franquia Velozes e Furiosos. Conor é um fanfarrão. Nem se deu ao trabalho de tentar atuar. Ele simplesmente pega sua calça roxa, um taco de golfe e começa a abrir sua metralhadora de palavras sem sentido, mas com sotaque irlandês. Ou você ama ou odeia. E tudo bem. Ninguém está preocupado.
Até gosto do senso de humor bizarro que inclui uma sequência absurda com um crocodilo. Não me incomodei com o senso de humor engraçadinho do roteiro, bem safado (não no sentido que deixaria Christian Grey interessado), mas no final das contas, é só um entretenimento vazio para ser esquecido depois de alguns dias.
O maior problema da produção do responsável por No Limite do Amanhã e Identidade Bourne repousa no desenvolvimento do seu protagonista. Não há um arco de desenvolvimento, já que Elwood começa e termina da mesma forma. Não há nenhuma jornada de autoconhecimento, reflexão ou amadurecimento. Ele é simplesmente um homem que caminha na linha tênue entre a lei e o crime. Ainda que esse detalhe não seja lá o defeito de Matador de Aluguel, é um ponto que incomoda. A última frase diz algo como “Você acha que não é o herói, mas você também não é o vilão.”, e isso resume bem a essência do personagem. Para nós, como espectadores, fica um gosto amargo da vida real em um filme totalmente descompromissado com a realidade.
Longe de ser uma bomba, mas ainda mais distante de poder ser considerado um dos melhores filmes de ação de 2024, Matador de Aluguel será a opção perfeita para quem quer se deliciar com os músculos de Jake Gyllenhaal em uma narrativa sem pé, nem cabeça, mas que pode funcionar como válvula de escape para quem quer se divertir com um filme desmiolado, daqueles que “não precisa pensar”.
Matador de Aluguel está disponível no Amazon Prime.