review maníaco do parque

Review Maníaco do Parque: Filme tropeça ao tentar balancear jornalismo sensacionalista e psicopatia visceral

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica do Maníaco do Parque contém spoilers e deve ser apreciada com moderação.

POSTER MANIACO DO PARQUEO BRASIL NÃO VIVE APENAS DE MEMES ENGRAÇADOS. Nos anos 1990, o brasileiro testemunhou uma série de acontecimentos bizarros. Do pênalti que Roberto Baggio isolou na Copa de 1994 ao meteoro de alegria dos Mamonas Assassinas, de Van Damme ficando “animado” no palco do Domingo Legal ao mistério em torno do assassino de A Próxima Vítima. O entretenimento era simples, mas o noticiário policial, nem tanto.

O início dos anos 1990 chocou o país com tragédias como o assassinato de Daniella Perez, o Massacre da Candelária e a tentativa de homicídio contra o líder indígena Galdino. Porém, nenhuma dessas histórias mexeu tanto com o imaginário popular quanto o caso do Maníaco do Parque.

Talvez pela coincidência bizarra com o vilão Cadeirudo, da novela A Indomada (exibida um ano antes dos crimes do Maníaco), o país inteiro acompanhava a caçada pelo assassino. Ou seja, é uma história muito conhecida por quem já tinha idade suficiente para ler e escrever em 1998. Isso torna a missão do cineasta Maurício Eça ainda mais desafiadora. Apesar de Eça gostar de desafios (afinal, foi ele quem levou a história de Suzane von Richthofen ao cinema na trilogia A Menina que Matou os Pais), aqui ele parece perdido ao tentar evitar o sensacionalismo.

Em seu projeto anterior, Eça lidou com críticas de pessoas que consomem vorazmente produções estadunidenses de crimes reais, mas se ofendem ao ver a nossa própria história nas telonas. A impressão é que o diretor tentou fugir de dar “atenção” ao psicopata que assassinou mais de 10 mulheres. Infelizmente, o resultado final fica aquém, sem coragem de seguir um caminho único.

Agora, permitam-me uma crítica que raramente faço: avaliar uma obra pelo que ela poderia ter sido. Em 2019, o filme alemão O Bar Luva Dourada chegou como um soco na mente e no estômago dos cinéfilos. Sujo, asqueroso, desconfortável. Se Maníaco do Parque não estivesse tão preso ao apelo comercial, poderia ter seguido uma linha semelhante. Mas o público médio brasileiro não está pronto para um cinema tão visceral. Ponto.

O filme acaba flertando com o excelente Holy Spider, mas tropeça na falta de foco. Ao dividir a atenção entre o vilão (vivido por Silvero Pereira) e uma jornalista ambiciosa com problemas de autoestima (Giovanna Grigio), Maníaco do Parque não se desenvolve como poderia. E isso ainda prejudica o desempenho de Pereira, que, diante de uma grande oportunidade de fugir dos papéis estereotipados, acaba sem chance de evitar criar um assassino caricato — uma fera selvagem que expõe demais a essência do psicopata, ao invés de disfarçá-la, como seria mais interessante.

No fim das contas, cinema é um produto. E todo produto tem seu público-alvo. Para um filme que começa, em pleno 2024, com o pleonasmo “baseado em fatos reais”, fica claro quem ele quer atingir — e nesse ponto, será um sucesso. Longe de ser ruim, Maníaco do Parque talvez sofra mais por mexer nas memórias e expectativas do público que acompanhou o caso real do que por suas falhas de execução. Na dúvida, vale conferir e formar sua própria opinião.