Se você está na Netflix à procura de um novo filme de zumbi que misture carnificina com um drama familiar, Lá Fora pode parecer a opção perfeita. Mas não se engane: as criaturas são só coadjuvantes nessa tragédia cheia de tensão conjugal, onde os gritos de “cuidado!” são tão prováveis de vir do ataque de um morto-vivo quanto de uma DR pesada.
Dirigido por Carlo Ledesma, esse thriller filipino começa com força total: Francis (Sid Lucero) e sua esposa Iris (Beauty Gonzalez) tentam sobreviver a um apocalipse zumbi enquanto a crise do casamento se arrasta atrás deles como um zumbi manco. Após uma sequência de eventos no mínimo perturbadores – que inclui encontrar o pai morto e matar a mãe já transformada – a família se esconde no velho casarão da infância de Francis. E aí que o verdadeiro show começa. Spoiler: não são os zumbis que vão te deixar de cabelo em pé, e sim as decisões absurdas e as explosões emocionais.
Francis, o anti-herói de toda reunião de família: O que começa como uma tentativa de proteção rapidamente se transforma em paranoia pura. Francis, armado com o revólver do pai abusivo, vai de “homem da casa” a “tirano de plantão” antes que você possa dizer “socorro”. A maneira como Ledesma nos conduz pela descida de Francis à loucura é tanto hipnotizante quanto digna de um bom meme de “esse homem precisa de terapia”. Entre sabotagens no carro e queimas de mapas de fuga, fica claro que a segurança externa é só um pretexto: o cara quer mesmo é prender Iris, custe o que custar.
Iris e a paciência de Jó: Enquanto isso, Iris é retratada como a personagem com quem você tenta desesperadamente simpatizar. Ela é a voz da razão, mas também carrega um segredo de infidelidade que só ajuda a inflamar a paranoia de Francis. Em uma cena intensa, ela narra uma história para o filho mais novo, Lucas, sobre um garoto que grita lobo para ganhar atenção – uma metáfora não tão sutil para o estado do seu relacionamento com Francis.
E os zumbis? Ah, os zumbis. Aqueles que você pensou que estariam no centro da trama acabam jogados de lado. No início, a ameaça é palpável e as cenas de tensão são bem conduzidas, mas conforme a trama avança, os mortos-vivos viram figurantes de luxo. A explicação do surto? Praticamente inexistente. A descrição de que estão “enfraquecendo” com o tempo deixa o espectador se perguntando se eles entraram em greve ou se só precisam de um café forte.
O que fica da experiência: Lá Fora faz uma pergunta intrigante: de que adianta proteger-se do perigo externo se o verdadeiro caos está na sua própria sala de jantar? Essa metáfora é ilustrada brilhantemente em detalhes sutis, como o chaveiro com a frase “Lar é onde está o coração”, que aparece como um tapa na cara para Francis, cada vez mais isolado da própria família.
Veredito Final: Se você entrar em Lá Fora esperando ação desenfreada de zumbis, pode se decepcionar. Mas se topar uma montanha-russa psicológica com doses de horror familiar e um protagonista que faz Jack Torrance parecer um diplomata, está no lugar certo. O filme mistura boas atuações e uma direção que sabe como manter a tensão, mas tropeça um pouco na tentativa de equilibrar os mortos-vivos com o drama humano. No fim das contas, é como descobrir que o verdadeiro monstro não é o zumbi, mas o cara que queima seu mapa de fuga e ainda acha que está fazendo um favor.