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Review Intruso: Paul Mescal e Saoirse Ronan estrelam romance distópico que se sabota no final

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Intruso possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação. 

 

intruso poster reviewA PREMISSA DE INTRUSO (Foe, Garth Davis, 2023) é irresistível para fãs da temática fim do mundo, os humanos destruíram a Terra, os clones e a inteligência artificial substituirão os humanos etc. Verdade seja dita, o longa do diretor de Lion tem muitos pontos positivos, mas sua conclusão é a melhor definição para o conceito de “cagar no maiô”. 

Estrelado por Saoirse Ronan e Paul Mescal, Intruso é um thriller sci-fi que fala muito mais sobre as complexidades de um relacionamento amoroso do que o fim da vida como conhecemos. Hen (Ronan) e Junior (Mescal) vivem em terras isoladas e recebem a visita inesperada de um homem com um comunicado nada gostoso de se ouvir. Imagina. Você tem seu descanso interrompido por um sujeito intrometido, portador das más notícias de que dali a um ano, você terá que participar de uma missão espacial. Eu iria querer quebrar o sujeito na porrada – mas aí seria outro filme. 

O grande acerto da narrativa é criar suspense e tensão em cima das nossas expectativas. Assim como os protagonistas, nós começamos a ficar ansiosos pelo retorno do visitante e da partida de Junior. Existe uma atenção especial, muito bem-vinda, nos conflitos do relacionamento do casal. Aos poucos, a dinâmica da vida de Hen e Junior consegue se tornar muito mais importante que o retorno do visitante. 

Assim como acontece em Armageddon, de Michael Bay, com os personagens de Ben Affleck e Liv Tyler, o espectador se envolve e lamenta pela separação que está por vir. Curioso é que, paralelamente, nós também conhecemos os dramas e frustrações de Hen e Junior. Existe um conflito entre torcer para que fiquem juntos ao mesmo tempo em que desejamos que cada um seja feliz vivendo a sua própria vida, mesmo que separados. 

Em determinado momento, Intruso acaba tropeçando nos seus excessos de suspense e pistas. Aaron Pierra dá vida para um ambíguo Terrance, que cria desconfianças no espectador e também em Junior. Na medida em que a história avança, começamos a nos perguntar: “esse cara é mesmo quem ele diz ser?”. Piora quando Junior é atacado por um grupo misterioso de pessoas. Boa parte das questões são respondidas com uma reviravolta muito curiosa, revelando que o Junior verdadeiro já está voltando da sua viagem, enquanto o personagem que conhecemos é na verdade o clone. 

Isso cria uma situação complicada para Hen, que parece ter se reconectado com o marido… mas por causa do comportamento do seu clone. Quando o verdadeiro Junior retorna, o destino do clone é a extinção, assim como assistimos em A Ilha, também de Michael Bay. A morte do “nosso” Junior é um tanto desconfortável, especialmente porque o verdadeiro é um babaca de marca maior. 

Intruso poderia ter acabado comemorando mais acertos que defeitos, mas não. Alguém achou por bem ter um duplo-final, meio que respondendo as possíveis dúvidas (para uma questão bem explícita, diga-se de passagem) deixadas pelo roteiro. 

Poxa vida, Brasil. 

Qual a necessidade de estragar o final do longa com uma cena tão óbvia e desnecessária? O que aconteceu com a magia do cinema, aquela coisa de deixar o imaginário do espectador falar mais alto e criar discussões interpretativas do desfecho da trama? Ao desperdiçar energia com uma cena descartável de Ronan dentro do avião, Davis, de forma proposital ou não, também chamou os seus espectadores de idiotas. E estragou seu filme. 

Intruso está disponível no Amazon Prime.