REVIEW HOLLAND CRITICA FILME

Review Holland: Nicole Kidman Contra as Aparências (e a Sanidade)

Se você achava que morar em uma cidade cenográfica no interior de Michigan, onde todo mundo se veste como se tivesse saído direto de uma loja de souvenirs da Holanda do século XVIII, era receita para tranquilidade, prepare-se para o pesadelo colorido de “Holland”. Mimi Cave, que já flertou com o horror em “Fresh”, agora coloca Nicole Kidman para andar de tamanco emocional numa cidade que é metade EPCOT, metade “Blue Velvet”.

Na história, Kidman vive Nancy Vandergroot, uma professora de economia doméstica que vive um casamento aparentemente perfeito com Fred (Matthew Macfadyen), um optometrista obcecado por trenzinhos em miniatura – ou seja, claramente um homem perigoso. Eles têm um filho, Harry (Jude Hill), que parece ter escapado diretamente de “A Vila dos Amaldiçoados”. Tudo é muito bonitinho, muito arrumadinho… até que Nancy começa a desconfiar que Fred pode estar escondendo segredos mais sombrios que um porão sem wi-fi.

Logo de cara, o filme se instala na cabeça da protagonista, que suspeita de traição por motivos que variam entre vibrações estranhas e um bilhete amassado de Madison, Wisconsin – porque claro, toda infidelidade começa em Madison. Como se não bastasse a paranoia matrimonial, ela acaba se aproximando do professor Dave (Gael García Bernal), um imigrante mexicano que, infelizmente, é mais usado como dispositivo de roteiro do que como personagem real. Entre investigações cafonas e flertes constrangedores, os dois se enredam em uma trama que parece ter saído de um conto da revista “Boa Forma Conspiratória”.

O filme tenta equilibrar os delírios de Nancy com uma estética que beira o comercial da Little Debbie: flores saturadas, casas de boneca e um marido com cara de “não fiz nada, mas talvez eu matei alguém”. A fotografia de Pawel Pogorzelski (“Midsommar”) transforma maquetes em cenários reais e vice-versa, criando uma espécie de efeito Tilt-Shift da sanidade.

Temos cenas de sonho bizarras, espionagem em consultórios oftalmológicos, e um climáx emocional que nunca sabe se quer ser “Não se preocupe, Querida” ou “Mulheres Perfeitas”. Kidman entrega uma atuação incrivelmente contida para uma personagem que merecia mais explosão – a Nancy de verdade deveria estar quebrando pratos, rasgando cortinas e talvez invadindo uma convenção de trens em miniatura. Mas Cave prefere mantê-la andando em círculos, como se estivesse num carrossel emocional que nunca decola.

Macfadyen, como o marido misterioso, está perfeitamente insuportável, o que funciona, mas não salva a falta de impacto das reviravoltas. Bernal, por outro lado, parece ter sido escalado por acidente, passando boa parte do tempo com expressão de quem está tentando lembrar onde deixou o roteiro.

“Holland” é um daqueles filmes que você assiste esperando por um momento de gênio ou ao menos um twist que te faça engasgar com a pipoca. Mas quando tudo é finalmente revelado, a reação é mais “Ah, só isso?” do que “Meu Deus!”. O filme queria ser “Garota Exemplar” no país das tulipas, mas acabou sendo uma versão deluxe de um episódio perdido de “Desperate Housewives” com filtro do Instagram.

No fim das contas, “Holland” vale pela atmosfera kitsch e por mais uma entrega digna de Nicole Kidman, mesmo que o filme nunca saiba o que fazer com ela. Como uma sobremesa bonita que não tem gosto de nada, você vai assistir, comentar que tem estilo… e esquecer no dia seguinte. E se tiver um trem passando no fundo, pelo menos vai servir de distração.