Review: Garra de Ferro mostra a trágica história de uma família de lutadores

Cada família é única, com isso, os membros que compõem diversos modelos de família encontram o melhor jeito de conviver com seus sentimentos, medos e objetivos. Em Garra de Ferro (The Iron Claw), longa-metragem de Sean Durkin (O Refúgio) que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 7 de março, acompanhamos a trajetória da família Von Erich, formada por esportistas que encontraram na luta livre não só uma paixão, mas também uma maneira de honrar o nome da família e gravá-lo na história do esporte, além de realizar o sonho do patriarca.

Uma família vista como amaldiçoada precisa encontrar meios para se blindar contra essa crença e levar adiante a ideia de que, haja o que houver, a família é o que possuem de mais precioso. Kevin Von Erich (Zac Efron, de O Rei do Show) sabe o lugar que ocupa na família e vive conforme os objetivos traçados pelo pai, Fritz (Holt McCallany, da série Mindhunter), um ex-lutador que administra a carreira dos filhos nos esporte. Além de Kevin, ele e a esposa, Doris (Maura Tierney, da série The Affair), possuem outros três, quase todos ligados diretamente ao esporte.

Mas o que vemos supostamente como união pode ser entendido também como um ambiente opressivo, que poda qualquer possibilidade de individualidade e de escolhas próprias. Kevin leva a família e o esporte como as prioridades de sua vida, mas fica o questionamento sobre o limite entre o que ele quer e o que foi imposto.

Pouco a pouco, o comprometimento com o esporte e com a família toma conta de cada componente e as consequências são desastrosas.

Kevin possui três irmãos e é o mais velho desde que o primeiro filho dos Von Erich morreu, ainda criança. Harris Dickinson (Triângulo da Tristeza), Stanley Simons (da série Model Boy) e Jeremy Allen White (da série O Urso) completam a família, todos em busca do reconhecimento e, talvez, alguma demonstração de carinho do pai egocêntrico.

Boa parte da história trágica da família Von Erich é contada ao longo dos anos 1980, no Texas, ou seja, em uma época em que pouco (ou nada) se falava sobre saúde mental em uma região conservadora, onde muitos consideram o choro um sinal de fraqueza. Forma-se o cenário perfeito para o cultivo de conflitos internos e a constante sensação de insuficiência.

Aos 36 anos, Zac Efron se mostra um ator de performance competente, consistente e sólida. Por anos, foi subestimado por ter protagonizado a franquia de filmes da Disney High School Musical, (2006-2008), e por ter uma imagem que enche os olhos, porém, sob a direção de Durkin, ele se mostra amadurecido e se entrega ao personagem com toda a sua complexidade. No papel de Kevin, ele consegue transmitir as angústias de um homem consumido pela angústia da sensação de impotência e do medo diante da iminência da degradação daquilo que ele considera mais sagrado: a família.

Kevin é um homem sensível e sensato, porém criado por pais que não valorizam o diálogo, então ele guarda os seus sentimentos a ponto de quase ser sufocado por eles. Seu perfil é oposto ao de Pam (Lily James, de Yesterday), uma jovem que não disfarça o interesse por ele em nenhum momento, mas que deixa claro quais são os seus planos para o futuro.

Ao longo de sua história com Kevin, ela percebe a relação tóxica entre os membros da família e como todos querem agradar ao patriarca o tempo todo, como se ele não pudesse ser contrariado, nem questionado.

Entre tantas características que compõem o mérito do longa, talvez a mais importante seja o respeito com que a história de uma família norte-americana é tratada nas telas. O roteiro de Durkin não transforma ninguém em vilão, necessariamente, apesar de abrir os olhos do espectador para a figura de autoridade que o pai representa. Fica claro que há diversas formas de amar e que cada um consegue dar o que recebe, mas isso não isenta ninguém da responsabilidade das próprias ações.

Garra de Ferro tem distribuição da California Filmes e chega aos cinemas sem ter sido lembrado pelas grandes premiações. Mas a gente sabe que nem tudo o que é premiado será lembrado daqui a alguns anos e que o sucesso pode ser medido de diversas maneiras.