O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Feriado Sangrento possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
LÁ EM 2007, quando Quentin Tarantino e Robert Rodriguez chamaram uns amigos para dirigir trailers falsos para serem exibidos entre Prova de Morte e Planeta Terror, muita gente ficou na expectativa. Machete foi o primeiro a deixar de ser uma ilusão. Depois foi a vez de Hobo with a Shotgun. Agora, finalmente, Eli Roth dirigiu o aguardado slasher Feriado Sangrento (Thanksgiving, 2023).
O longa-metragem conta a história de uma Black Friday que dá muito errado durante o feriado de Ação de Graças. Como vingança, um ano depois da tragédia que tirou a vida de várias pessoas, um assassino começa a exterminar cada uma das pessoas que estava presente naquele evento.
Feriado Sangrento não é o tipo de filme indicado para quem prefere Babadook ao invés de Pânico. Na verdade, é bem provável que o nível de falta de noção incomode mesmo os fãs da franquia de Wes Craven. Roth, famoso por O Albergue e Green Inferno, não tem o menor pudor ou preocupação em levar seu filme à sério. Ainda que após a introdução, as coisas se normalizem um pouquinho, o compromisso da obra é única e exclusivamente com a diversão.
Os minutos iniciais do longa são hilários. Em sua crítica aos nossos excessos consumistas, Roth provavelmente conseguiu criar um filme capaz de se aproximar da mensagem de George Romero em O Despertar dos Mortos. Quase que em uma autêntica representação do Supermercado Guanabara, no Rio de Janeiro, os personagens invadem uma loja para aproveitar ofertas e não se preocupam em esmagar/enforcar/espancar uns aos outros. Essa fome de consumo gera momentos absurdos e, por isso mesmo, absolutamente hilários.
Após a introdução, Feriado Sangrento passa a dedicar atenção no desenvolvimento do seu núcleo principal. São jovens adolescentes chatos para um cacete. É impossível não ter o já citado Pânico como referência, assim como outros slashers mais recentes, como Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado e os remakes de Sexta-feira 13, A Casa de Cera e O Massacre da Serra Elétrica. As homenagens a Pânico, inclusive, também estão na brincadeira de tentar descobrir a identidade do assassino.
Porém, Roth decide seguir o seu próprio caminho. Mesmo evoluindo a qualidade técnica da sua obra para fugir do trash de Grindhouse, ele opta por criar sequências de mortes dentro do limite máximo do tosco e ridículo. Dentro das próprias regras estabelecidas na narrativa, ainda que gere discussões, é compreensível aceitar a verdadeira identidade do assassino e nem mesmo as falsas pistas causam uma sensação de ser enganado.
Feriado Sangrento é uma das grandes surpresas da temporada e facilmente um dos melhores filmes de terror de 2023, especialmente pela ausência de bons slashers – ou você acha que Pânico 6 merece uma menção entre os melhores do ano?