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Review Diabolique: Suspense provocante com Sharon Stone discute o machismo

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de Diabolique possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação. 

 

poster diaboliqueALGUNS FILMES ENVELHECEM BEM, outros nem tanto. Pode acontecer também de premissas ganharem novos significados e apresentarem formas inéditas de apreciar o passado. Em Diabolique (Jeremiah S. Chechik, 1996) acontece exatamente isso. 

A trama apresenta duas mulheres conectadas ao mesmo homem. Uma delas é a sua esposa, a outra sua amante. Juntas decidem matá-lo e encerrar todos os abusos físicos e psicológicos que ambas sofrem. Porém, alguém descobre o que aconteceu e começa a fazer uma série de ameaças misteriosas. 

Na década de 1990, o machismo era pouco debatido em comparação com o mundo de hoje. Logo, um filme como Diabolique servia apenas como uma “comédia vingativa” para o deleite das mulheres – sem deixar de ser um deleite para o público masculino, afinal a imagem de Sharon Stone em Instinto Selvagem ainda vivia no imaginário de todos que consumiam cinema na década. 

Mas quase trinta anos após o seu lançamento, a refilmagem de As Diabólicas (Les Diaboliques, Henri-Georges Clouzot, 1955) funciona diferente. Apesar de não ser um bom filme, a mensagem cresce nos anos 2020. Diabolique deixa de ser uma brincadeira exagerada, ou uma “comédia vingativa”, e fica mais sério. Quase como a mãe ou tia de Bela Vingança (Promising Young Woman, Emerald Fennell, 2020). 

O que poderia ser apontado como uma característica machista do seu roteiro e funcionar para adicionar mais um ponto negativo na sua avaliação, também pode ser visto como um mal necessário. Mia (Isabelle Adjani) dá uma canseira na paciência do espectador com sua passividade e apatia. A própria atuação de Adjani é bem caricatural, como se quisesse deixar claro para o público o seu esforço para parecer uma donzela submissa sem neurônios. Prefiro imaginar como algo proposital do que uma ineficiência da direção, pois reforça a fragilidade feminina retratada na obra. 

Nem Nicole (Stone), como a mulher mais forte em cena, escapa do controle invisível do homem. É como se Guy (Chazz Palminteri) continuasse controlando e manipulando a vida das duas, mesmo fora de cena. E digo isso além do plano maquiavélico que se revela durante a conclusão. É quase como se a direção tivesse estabelecido limites para a “liberdade” das protagonistas, que agem como se ainda estivessem acorrentadas. 

Diabolique não é exatamente uma joia do cinema dos anos 1990. Dificilmente apareceria em uma lista de melhores filmes de 1996, mas é uma indicação interessante para discutirmos triângulos amorosos e machismo. Mesmo com todas as suas limitações, ainda permite releituras poderosas para reflexão sobre o tema. 

Disponível no MAX.