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Review Demolição: Jake Gyllenhaal em um dos seus melhores momentos

MINHA REAÇÃO IMEDIATA APÓS ASSISTIR DEMOLITION foi acessar o Twitter e escrever para todos os meus seguidores o quanto o filme é do caralho. Imediatamente recebi uma mensagem do meu querido crítico Alex Gonçalves, do blog Cine Resenhas, dizendo que eu tinha problemas. Isso não é lá uma grande novidade, mas me chamou a atenção descobrir que uma produção tão sensível recebeu críticas negativas até mesmo de profissionais que ainda possuem um coração.

O longa apresenta a história de Davis (Jake Gyllenhaal), um cara que acabou de sofrer um acidente de trânsito com a sua esposa, que não resistiu e faleceu. Davis começa a demonstra uma estranha reação inicial de indiferença e logo começa a ter desejos de quebrar, destruir ou demolir (daí o título) tudo que aparece ao seu redor. Nesse período meio esquisito, ele conhece Karen (Naomi Watts) e os dois iniciam uma curiosa relação de cumplicidade.

Vallée recentemente presenteou os cinéfilos com dois filmes sensacionais, cujos principais méritos estão na direção de elenco. É preciso reconhecer que seria injusto comparar o que Matthew McConaughey e Jared Leto fizeram em Clube de Compras Dallas ou Reese Wittherspoon em Livre com o trabalho de Gyllenhaal ou Watts. Os dois primeiros exemplos contam com um nível de intensidade maior, enquanto Demolition não consegue repetir essa mesma sensação. É intenso, é, mas não consegue envolver o espectador justamente por tratar de um tema de difícil assimilação. É mais comum nós julgarmos Davis como um babaca maluco do que alguém que está sofrendo tanto que sequer consegue se permitir sentir a dor da perda.

Gyllenhaal, um ator elogiado e com um currículo recente muito interessante, acerta no tom de indiferença do seu personagem, um cara que parece ter vivido boa parte de sua vida no piloto automático sem observar tudo que acontece ao seu redor. Nos minutos iniciais chega a ser incômodo o jeito com que ele trata a sua esposa. Percebemos a sua frieza e os esforços dela para tentar evitar brigas, mesmo quando iniciam uma discussão no carro por conta de uma geladeira com defeito e que precisava ser arrumada. Aos poucos, Davis vai demonstrando mudanças e cria laços com Karen e o seu filho adolescente. Como Gyllenhaal não é conhecido por ser muito expressivo, é preciso observar com atenção as evoluções sutis do protagonista até que ele se permite aceitar o que lhe aconteceu e seguir em frente.

É curioso como o gatilho inconsciente de Davis é acionado ainda no hospital, momentos depois do acidente com a esposa. A narrativa começa a se desenvolver a partir da sequência em que ele tenta comprar um amendoim numa máquina do hospital que dá defeito e deixa ele passando fome. Chateado, na sua primeira oportunidade, justamente no velório da esposa, Davis escreve a carta mais triste e sincera que um SAC já deve ter recebido. Ao invés de parar nessa carta, Davis começa a escrever várias outras correspondências e é assim que conhece Karen. Ao mesmo tempo, ele começa a sentir essa estranha necessidade de quebrar as coisas para entender como elas funcionam – numa possível analogia para tentar entender suas emoções e buscar um pouco de autoconhecimento.

Demolition é um belo filme sobre luto e perdas, assim como o já citado Livre ou Cake, estrelado por Jennifer Aniston. Mas mais do que uma linda história dramática, consigo perceber nele um triste exemplo de narrativa romântica. É mais comum preferirmos obras que falam do amor idealizado ou com finais felizes, mas às vezes é necessário buscar recomendações de obras que nos ajudem a lidar e encarar nossas próprias perdas. Demolition cumpre bem esse papel, e não é por acaso que provavelmente estará no nosso ranking anual de melhores filmes de romance.

Texto escrito em 2016.