Imagine um Big Brother com batinas, fumaças simbólicas e plots mais tortuosos que um sermão de três horas. Pois é exatamente isso que Conclave entrega: um thriller papal ambientado no coração do Vaticano, onde a santidade disputa espaço com a ambição, os pecados do passado e uma boa dose de veneno servido com vinho consagrado. Steven Spielberg? Christopher Nolan? Dêem passagem para Edward Berger, que transforma a leitura de um romance de aeroporto em um drama visualmente estonteante, inteligente e perigosamente atual.
A história começa com o papa batendo as sandálias para sempre. É a deixa para que o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes, com olhar de quem já viu coisa pior em Hogwarts) assuma a organização da Conclave, o ritual secreto de escolha do novo papa. O Vaticano vira um tabuleiro de xadrez de alta tensão, onde bispos e cardeais desfilam seus dogmas, vaidades e passados sombrios.
Mas se você esperava um filme parado com velhinhos rezando, errou de missa. Conclave é um thriller eletrizante onde cada troca de olhar pode significar traição, e cada voto é uma punhalada metafórica nas costas. Ralph Fiennes é o detetive espiritual que não queria estar ali, mas se vê investigando os pecados dos seus colegas com o fervor de um Hercule Poirot de batina. Ao seu lado, Stanley Tucci brilha como Bellini, um liberal que apavora os conservadores da Cúria, e John Lithgow entrega seu melhor papel desde que foi o Trinity Killer.
São tantas reviravoltas que você mal consegue rezar um Pai Nosso antes de outro escândalo surgir. E quando você pensa que o jogo acabou, vem o último ato e joga sua fé no lixo com um plot twist mais ousado que o dogma da infalibilidade papal. Sim, é aquele tipo de final que vai dividir opiniões, gerar debates, e talvez um exorcismo ou dois.
A fotografia de Stéphane Fontaine transforma cada corredor do Vaticano num campo de batalha estético. Os cardeais em vermelho vivo, os trajes dos guardas suiços parecendo saídos de um desfile da Gucci medieval, tudo é um deleite visual. Mas o maior triunfo de Conclave é fazer com que um grupo de homens discutindo teologia em uma sala seja mais tenso que perseguições de carros em Missões Impossíveis.
No fim das contas, Conclave não é só sobre eleger um novo papa. É sobre o conflito entre tradição e mudança, entre poder e humildade, entre quem somos e quem fingimos ser sob a luz divina. Um lembrete de que, mesmo debaixo da tiara papal, pulsa um coração humano cheio de dúvidas, ambições e segredos inconfessáveis.
Conclave é o tipo de filme que faz você sair do cinema com vontade de rezar, mas também de fofocar. E não existe recomendação melhor que essa.