Review Bridget Jones: Louca pelo Garoto: Cheio de clichês adoráveis, sequência repete fórmula para rir e emocionar

*por Julie Ribeiro

Bridget Jones: Louca pelo Garoto (2025), de Michael Morris (Better Call Saul e outras séries), chega aos cinemas nesta quinta-feira, 13 de fevereiro, um dia antes do Valentine’s Day nos países do Hemisfério Norte. Quarto filme da sequência que tem como base os livros de sucesso da inglesa Helen Fielding, este é o único do universo bridgetiniano dirigido por um homem, após os sucessos de O Diário de Bridget Jones (2001) e O Bebê de Bridget Jones (2016), de Sharon Maguire, além do nem tão celebrado assim Bridget Jones: No Limite da Razão (2004), de Beeban Kidron.

Em Bridget Jones: Louca pelo Garoto, Renée Zellweger faz seu retorno às telas, após vencer o Oscar de Melhor Atriz, em 2020, por Judy: Muito Além do Arco-Íris (2019). Vale lembrar que a primeira indicação de Zellweger ao Oscar foi justamente com o O Diário de Bridget Jones, em 2002, quando engordou mais de 11 quilos para o papel que a eternizou na cultura pop.

Nos anos 2000, nos acostumamos com uma Bridget de humor ácido, cheia de incertezas e atrapalhada. No quarto filme, percebemos, logo de início, que o universo caótico da personagem se expandiu, ao ter que lidar sozinha com dois filhos pequenos. Se antes a protagonista tinha que enfrentar a solteirice na casa dos trinta anos, agora, Bridget é uma mulher de meia-idade que precisa lidar com as perdas que a vida adulta lhe causou. De início, nos é apresentado o panorama de seu momento atual, em que ela perdeu o marido, o pai e o trabalho, e precisa confrontar vozes ecoando em sua mente, da mãe, dos amigos e dos falecidos Colin Jones (Jim Broadbent, de Moulin Rouge) e Mark Darcy (Colin Firth, de O Discurso do Rei).

Viúva há quatro anos, Bridget segue com a companhia dos três amigos inseparáveis e do sempre atrevido Daniel (Hugh Grant, de Herege). Se lembrando de uma promessa feita ao pai, e ao perceber que não possui mais nada, após ter tido quase tudo, ela resolve voltar a viver. Bridget pega o seu icônico diário que estava em branco após a morte de Mark, e volta a escrever. Mantendo sua personalidade fascinante, divertida e desbocada, ela segue com suas inseguranças e trapalhadas, como não conseguir lidar com as mães na escola dos filhos, levando à filha à ginecologista ao invés da pediatra, criando suas senhas com palavrões no meio, não sabendo como se portar em um elevador sem botões, falando sem querer para a plateia de suas aventuras sexuais, ou tendo que encarar a babá perfeita Chloe (Nico Parker, de The Last of Us).

De volta à vida, Bridget retorna ao seu trabalho de produtora de TV e sai em busca de um novo amor no Tinder, descobrindo Roxster (Leo Woodall, de Um Dia), o garoto do título. Encantada com o jovem de 29 anos da “geração que pergunta” por consentimento, ela vive um conto de fadas de amor e diversão por Londres. Seguindo a mesma fórmula dos filmes anteriores, Bridget desperta um segundo interesse amoroso, o do professor de Ciências do seu filho, Mr. Wallaker (Chiwetel Ejiofor, de 12 Anos de Escravidão), contido e racional como o falecido Mr Darcy.

Recheado de elementos emotivos dos filmes anteriores, como trilha musical característica, dancinha engraçada – dessa vez com os filhos -, trocadilhos e uso de duplo sentido com teor sexual, andar de pato, queda e pulinhos da personagem principal, beijo na neve, e a famosa calçola bege, Bridget Jones: Louca pelo Garoto aposta no que já deu certo nas obras anteriores: no carisma de sua protagonista.

Ainda, o filme reserva diversas cenas em que mães solteiras com filhos possivelmente vão se identificar, como a filha sempre perguntando para todo homem se ele vai ser seu novo pai, a mãe surtando não conseguindo lidar com as crianças aficionadas por telas que não querem sair de casa, ou a dificuldade de interagir com outras famílias que parecem perfeitas. Cheio de clichês adoráveis, como o jovem musculoso que pula de camisa branca na água para salvar um cachorro, ou uma chuva torrencial que obriga um grupo a passar a noite em uma cabana na floresta, o filme é uma espécie de celebração ao universo bridgetiniano sem muitas complicações. Apesar de ter momentos mais densos, como a dificuldade do filho de Bridget de lidar com a morte do pai, e uma discussão científica e filosófica sobre matéria e alma, a obra mantém a estrutura conhecida, com tipos de personagens se repetindo ao redor da protagonista. Em determinado momento, o professor de ciências destaca que a energia só pode ser transferida; e é exatamente o que acontece no filme: a mesma energia da personagem por quem nos apaixonamos se mantém, apenas sendo arrastada para as obras seguintes. A diferença aqui é que
encontramos uma Bridget amadurecida, assim como seu público. Cabe destacar que no filme, o corpo de Zellweger é preservado nas cenas mais picantes, enquanto o dos personagens masculinos aparecem mais expostos.

No entanto, apesar da charmosa presença de Roxster e de todo o carisma de Mr. Wallaker, a falta de Colin Firth, ainda que Mark apareça em algumas cenas como se estivesse acompanhando o crescimento dos filhos, é o maior buraco do filme. Sim, Mr. Darcy faz muita falta, ainda que esteja presente na ausência tão sentida, na memória, ou na simbologia de uma coruja. Ao que parece, a jornada de Bridget chegou ao fim, se transformando em um filme familiar com final feliz.

P.s.: Aguardem os créditos para se deliciarem com cenas e fotos das obras anteriores.