O filme Bob Marley: One Love, que prometia ser uma celebração do reggae e da trajetória do músico jamaicano, chega aos cinemas com um roteiro extremamente simplista e sem a devida profundidade. A direção de Reinaldo Marcus Green e o roteiro de Zach Baylin, Frank E. Flowers e Terence Winter falham em imergir o espectador na jornada de Robert Nesta Marley, considerado o maior músico da Jamaica e um ícone global por suas mensagens de paz, união e amor.
Infelizmente, o filme se concentra demasiadamente nas canções, esquecendo de mostrar o enorme símbolo de luta pela liberdade que Bob Marley representava. A vida pessoal e política do músico é relegada a segundo plano, e a cinebiografia apresenta apenas uma visão superficial de sua história, desde suas raízes humildes em Trench Town, Kingston, até sua ascensão à fama internacional.
Outro ponto fraco do longa é a atuação de Kingsley Ben-Adir como Bob Marley. A performance do ator é amadora e caricatural, incapaz de transmitir o poder e a emoção das letras de canções como “No Woman, No Cry”, “One Love”, “Get Up, Stand Up” e “Three Little Birds”.
O mais decepcionante é que, mesmo com a participação de familiares de Bob Marley na construção do roteiro, o filme parece esquecer que, além de músico extraordinário, ele era um dos maiores defensores da justiça social de todos os tempos, combatendo o racismo e a opressão vivida por seu povo na Jamaica.
Um ponto positivo é que, em alguns trechos, a produção demonstra como sua fé em Rastafari – símbolo de resistência e soberania africana – foi uma das maiores influências para sua luta pela igualdade e na construção de suas letras musicais.
Outro ponto forte da obra reside em proporcionar ao espectador momentos de imersão na relação pessoal do cantor com sua esposa. Através de cenas cuidadosamente elaboradas, o filme explora seu relacionamento cheio de altos e baixos com sua esposa Rita (interpretada de forma brilhante por Lashana Lynch) e seus filhos, revelando assim a face humana por trás desta grande lenda.
Em resumo, Bob Marley: One Love foi uma oportunidade perdida de se aprofundar na vida e no legado de um artista icônico. Se limitando a apresentar uma visão superficial e simplista de sua história, sem explorar sua importância como símbolo de luta e resistência. E mesmo nos contando a história de um homem que transcendeu barreiras, uniu o mundo com a força de sua música e suas convicções, acaba ganhando uma cinebiografia que não faz jus a quem ele representava, não celebrando corretamente sua vida e nem o seu legado como este grande artista que continua a inspirar e influenciar gerações até hoje.