Refém da Paixão

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PERMANECI AFASTADO DA CRÍTICA E CINEMA durante esses últimos períodos, o que resultou num número pífio de material escrito na temporada. Aparentemente estou perdendo de lavada para o Eduardo Monteiro, que em breve chegará ao vigésimo artigo, enquanto estou apenas com oito. Nove agora, para sermos exatos. Em Refém da Paixão (Labor Day, 2013), novo trabalho de Jason Reitman, encontrei uma inspiração para me fazer tirar as poeiras dos dedos, mente e coração.

Com uma tradução tão medonha, dá para compreender como é que um longa-metragem estrelado por Josh Brolin (Oldboy) e Kate Winslet (Titanic) não recebeu a devida atenção nos cinemas brasileiros. Passou rápido, veloz. A verdade é que por trás de um título tão genérico se esconde uma bela história do diretor de Juno e Amor Sem Escalas, obras que nos encantaram tanto num passado não tão distante.

A trama apresenta uma mãe solteira depressiva que é sequestrada por um fugitivo durante o feriado do dia do trabalho. Durante cinco dias, ela e seu filho convivem com um assassino condenado pela justiça. Foram cinco dias que mudaram para sempre a vida dessas três pessoas.

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Podemos estranhar a estranha conexão estabelecida entre homem e mulher em tão pouco tempo? Síndrome de Estocolmo explica? (Para quem não sabe, esse é o nome que se dá para pessoas que criam afeição por seus sequestradores) O fato é que Frank entra na vida de Adele e Hank como um tornado. No curto tempo em que dividiram o mesmo lar, Frank agiu como marido e pai para ser a peça que faltava na vida daquela família. Adele, afundada numa depressão que a mantinha presa em casa o tempo inteiro, se surpreende ao sentir aquele velho calor novamente. Um calor que não surgiu naturalmente, claro, mas que o destino se encarregou de botar em sua vida. Para ela, Frank representava a última chance de ser feliz, de sentir o amor há muito perdido. Justamente por esse “desespero”, essa urgência em se descobrir viva novamente, Adele aceita a química entre ela e o foragido da justiça. Ela se deixa levar para conseguir sentir. Ela desabrocha lentamente, num processo que é evidenciado sutilmente pelos tons de suas roupas: de um marrom sóbrio e sem graça, até um vestido verde vivo.

Por outro lado, é curioso observar que Adele e Frank não faziam “parte” do mundo exterior. A vida deles passou a existir de verdade dentro do espaço da casa. Lá, ele não precisava se preocupar em fugir da polícia, e ela não precisava ter medo de enfrentar a vida. As limitações de ambos funciona como um imã para tornar a atração inevitável. Cada um deles recebeu uma pequena doação de vida e esperança, daquelas que acontecem quando duas almas fragilizadas se encontram. De certa forma, podemos resumir Refém da Paixão como um filme sobre segundas chances.

Reitman parece querer trabalhar o seu lado gourmet em uma longa sequência em que a “família” prepara uma torta de pêssego junta. Poderia ser apenas uma sessão de tortura gratuita para quem é fã de torta de pêssego, mas nenhuma ponta fica solta no seu roteiro e descobrimos o motivo para o cineasta ter dedicado tanto tempo para uma cena linda e metafórica, mas que não parecia ter nenhuma grande importância na trama. De certa forma, me chamem de estranho, eu me lembrei do casal de Ghost – Do Outro Lado da Vida brincando de esculpir o amor.

Um dos grandes momentos da carreira de Reitman, que já nos havia presenteado com duas obras lindas anteriormente e se mantém como um cineasta criativo e sempre interessante. Mesmo com esse título bobo, e alguns probleminhas, Refém da Paixão merece um tempo da sua preciosa atenção. Ainda mais para quem aprecia psicologia e/ou personagens complexos – para não dizer malucos. Para todos aqueles românticos incuráveis, Refém da Paixão é um típico exemplo de que certas conexões são fortes demais para serem quebradas. Independente do tempo em que demoram para serem estabelecidas.

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