O CINEMA PRECISA DE VILÕES. SEMPRE PRECISOU E SEMPRE PRECISARÁ. Isso é não somente perfeitamente aceitável, mas também natural. Usar certas minorias como algozes é algo bem plausível, afinal, elas já não são populares entre a população. Metade do caminho para o vilão já está feito. Afinal, eles não fariam um vilão humano de qualquer forma.
Reel Bad Arabs é um filme inspirado em um livro homônimo sobre o envilecimento dos muçulmanos e árabes no cinema hollywoodiano, e como isso pode ser prejudicial e desumano. Eu sou um grande defensor da liberdade de expressão, mas ter liberdade para expressar uma opinião não significa que ela seja válida. Acredito que as pessoas devam ter autonomia para fazer qualquer tipo de filme, mas é obvio que não todo tipo de filme deve ser feito.
Cerca de um quarto da população mundial é formado por muçulmanos, mas na maioria dos filmes de Hollywood, quase todos representam vilões ou algum estereotipo do gênero. Isso é terrível, pois estamos falando de um grupo que já é desfavorecido em diversos aspectos na sociedade, e que então ainda têm que lidar com uma completa desmoralização por parte da cultura ocidental. E, como o próprio documentário explica, isso não foi algo que surgiu com Hollywood, eles apenas assimilaram esse estigma que existia na cultura europeia.
A obra acerta ao citar brevemente alguns eventos políticos importantes para o mundo árabe e questiona a integridade de Hollywood perante certas decisões políticas de Washington. Será que não existe um interesse político em estigmatizar os árabes? Cita-se também uma produtora que fez diversos filmes estereotipando os muçulmanos. Ademais, o filme acerta em cheio quando não negligencia os filmes que retratam com humanidade os muçulmanos, e nos apresenta alguns filmes que fazem esse tipo de retrato, mesmo que em vilões. Também questiona como o povo do oriente médio se sente ao ver tantos filmes com eles sendo tratados de forma tão vil.
É doloroso ver imagens de arquivo que mostrem a mídia falando que existem traços de oriente médio em um atentado terrorista feito por um garoto católico em Oklahoma. É difícil perceber que os estereótipos no cinema têm um impacto tão forte na sociedade, como na imagem sub-humana que é feita dos árabes. É algo como ‘se o terrorista fosse um muçulmano, teriam culpado a religião, mas ele era apenas um cristão.’
Jack Shaheen (o narrador do filme e escritor do livro que originou o filme) chega a comparar certas formas de estereótipos com os que eram usados pelos nazistas – e ele não está exagerando – essas rotulações apelam para o humor e caricaturas, não muito diferente das que eram feitas dos judeus.
Embora seja uma obra bastante curta (apenas cinquenta minutos) é bastante comovente e esclarecedora, importante de ser vista e debatida, pois em muitos filmes sem ligação alguma com o oriente médio árabes são feitos vilões caricatos. O filme não deixa, antes de tudo, de ser um apelo para que os árabes sejam tratados como humanos. Esse apelo é tão grande assim?
Título original: Reel Bad Arabs
Direção: Sut Jhally
Produção: Jeremy Earp
Roteiro: Jack Shaheen
Elenco: Jack Shaheen
Lançamento: 2006
Nota:[cinco]