Queimar a língua às vezes pode ser muito bom. Vencendo o meu próprio pré-conceito estabelecido sobre uma comédia romântica nacional (aqui eu preciso ressaltar que adoro o cinema brasileiro, minha crítica é apenas para um filme bobo e feito para um público com preguiça de pensar) e as várias opiniões negativas envolvendo Qualquer Gato Vira-Lata, constatei que o cinema é mesmo um semelhante da terapia e seu remédio é a capacidade de fazer rir, suspirar e se apaixonar. Não daria nada pelo filme, mas felizmente quebrei a cara e mais uma vez aprendi a não julgar tudo sem provar o gosto antes.
Tecnicamente é um filme que tenta fugir um pouco do padrão de novelas brasileiras e se fundir ao estilo vídeo-clipe e aquele que surge com cada vez mais frequências em programas de tv fechada. Inclusive, a utilização do recurso de dividir a tela e apresentar simultaneamente a reação dos personagens, rendeu uma das melhores piadas da comédia (que felizmente não assisti ao trailer antes). A trilha sonora também tem o seu destaque. Mallu Magalhães marca presença com quatro canções (incluindo a bela “Janta”, parceria com Marcelo Camelo) que encaixam como uma luva para apresentar os dramas e alegrias dos personagens.
Mas mesmo que o filme surpreenda positivamente pelo charme e ingenuidade, o problema é decifrar o roteiro antes mesmo do encerramento do primeiro ato. Sou fã de comédias românticas e pedir coerência ou novidades no gênero seria o mesmo que esperar Jean Claude Van-Damme ganhando um Oscar de melhor ator. Claro que isso não é desculpa para se aprofundar numa fórmula batida de triângulo amoroso, porém Qualquer Gato Vira-Lata se safa por sua simplicidade e por contar com personagens carismáticos e uma história clichê que faz o espectador rir. Sem sentir o mínimo remorso, o espectador se identifica com as passagens descritas na trama (da mulher moderna que sabe bem o que vai vestir e nunca se atrasa, até o amigo sacana que zoa os apaixonados e o professor que defende a poligamia masculina) e consegue se divertir com as caricaturas recriadas por Cleo Pires, Malvino Salvador e Dudu Azevedo (que mesmo sendo um ator privilegiado pela beleza e porte físico, consegue usar esses pontos ao seu favor e faz um personagem narcisista que não tem a menor noção do ridículo).
Qualquer Gato Vira-Lata pode ser considerada como a versão nacional de A Verdade Nua e Crua, mas ao invés de Gerard Butler canastrão, temos Azevedo servindo de colírio para o público feminino. Gosto desses filmes bobos e que conseguem te fazer refletir sobre coisas que acontecem em nossas próprias vidas, ainda mais quando sutilmente ele faz uma crítica e uma análise muito real do que é a rejeição. “Você não o ama. Você ama o sofrimento que essa relação te causa”, se torna uma verdade absoluta que atormenta tantos corações do mundo real.