DREDD É UM DOS MELHORES FILMES DE 2012, o que é uma grande surpresa se tratando de uma segunda adaptação dos quadrinhos do personagem Judge Dredd: na década de 90, Sylvester Stallone resolveu encarnar o personagem em um longa-metragem irregular e que descaracterizou a essência do herói. Felizmente a nova versão não é estrelada por nenhum ator de ego inflado e que não aceite usar um capacete durante toda a história. O resultado acaba sendo surpreendente e agradará especialmente aos fãs do gênero policial.
Em um futuro apocalíptico, a força policial tem autoridade para ser o juiz, o juri e o executor. Dredd (Karl Urban) recebe a missão de ser o instrutor por um dia da jovem aspirante (Olivia Thirlby). A dupla recebe um chamado para investigar um assassinato triplo e acaba cruzando com o império da perigosa traficante Ma-ma (Lena Headey). Aprisionados dentro de um bloco da cidade Mega-City One, eles precisam encontrar uma maneira de sobreviver para conseguir acabar com o reinado de terror da vilã psicótica.
Dirigido por Pete Travis (Ponto de Vista), é muito curioso perceber o fator O Cavaleiro das Trevas ao longo da atuação de Urban, que mesmo usando um capacete o filme inteiro faz um trabalho incrível, especialmente na entonação de voz. Quando acontece alguma coisa e Dredd se irrita, o público já fica aflito esperando para o que ele irá fazer em seguida, já que ao contrário de Christian Bale na trilogia dirigida por Christopher Nolan, Dredd mata os vilões sem dó. Outro detalhe interessante é acompanhar o crescimento da jovem policial médium, que aos poucos vai ganhando confiança enquanto lida com o dilema de matar ou não todos os vilões.
Quem acompanha as rodadas de críticas no Cinema de Buteco sabe que eu não sou nada adepto do 3D. Salvo raras exceções (A Invenção de Hugo Cabret e Prometheus), o recurso dificilmente agrega algo na trama e é apenas uma desculpa dos estúdios em faturarem ainda mais dinheiro nas bilheterias. Portanto, preciso dizer que o 3D de Dredd é sensacional. Se você optar por assistir ao filme na versão tradicional, ótimo, vale a pena mesmo assim, mas a maneira como o filme trata a nova tecnologia merece aplausos. A desculpa é perfeita e está inserida na própria trama: a droga slo-mo desacelera o tempo no cérebro do usuário, que passa a ver tudo em slow-motion. Ou seja, cada vez que alguém aparece consumindo a droga, o público é convidado para compartilhar a “viagem”, deixando uma sensação incrível de imersão.
O diretor de fotografia Anthony Dod Mantle (Quem Quer Ser Um Milionário?) nunca havia trabalhado com o formato e mostrou competência e ousadia ao misturar o efeito com o bullet time, aquele efeito popularizado pelos irmãos Wachowski em Matrix. Como se não bastasse as cenas em que os personagens deliram, o espectador logo pode conferir um verdadeiro massacre em câmera lenta, com direito a muitas cenas violentas. Aliás, a violência gráfica de Dredd chega até mesmo a lembrar RoboCop, de Paul Verhoeven, mas combinado com o efeito 3D fica ainda mais interessante. Sem abusar do falso moralismo, o diretor conduziu a câmera sem se preocupar em ter um ponto de limite para filmar os tiroteios e mostrar pessoas virando peneiras. Se os personagens não são perdoados e pagam por seus crimes, o público também terá que lidar com o fato de ser testemunha de vários assassinatos. Ou massacres. Depende do ponto de vista.
Acredito que em 2012 poucos filmes conseguiram uma cotação quase máxima nas páginas do Cinema de Buteco. O empolgante Dredd merece. Especialmente por ser um filme policial (gênero que gosto bastante) e que consegue prender o espectador do princípio ao fim com um roteiro simples e que não tenta ser mais do que é realmente. Preste atenção no humor seco e na atuação de Headey, que está incrível como uma vilã que é má até no nome.