Assalto à 13ª DP

O Cinema de Buteco adverte: o texto a seguir contém spoilers e deve ser apreciado com moderação.

A MELHOR PARTE DE ASSISTIR AOS FILMES DE JOHN CARPENTER É A GARANTIA DE OUVIR UMA BELA TRILHA SONORA. Em Assalto à 13ª DP, de 1976, a música tema lembra um pouco a sonoridade da trilha sonora clássica de O Enigma de Outro Mundo, no qual o cineasta e compositor dividiu os créditos com o genial Ennio Morricone. Aqui ela é usada para caracterizar os vilões da trama, que aparecem sempre acompanhados do baixo sintetizado da faixa. Carpenter contou que se inspirou no trabalho de Lalo Schifrin em Dirty Harry e na música “Immigrant Song“, do Led Zeppelin, para chegar ao material criado para o seu segundo longa-metragem.

As homenagens vistas (e ouvidas) em Assalto à 13ª DP continuam. Fã assumido de Howard Hawks e do filme Rio Bravo, o roteiro de Carpenter foi considerado como uma mistura do clássico estrelado por John Wayne com outra produção história: A Noite dos Mortos-vivos, de George Romero, lançado quase 10 anos antes. O comportamento da violenta gangue que tenta matar as pessoas que estão dentro da delegacia foi influenciado pelos zumbis de Romero. Até mesmo pelo fato das pessoas ficarem presas dentro de uma casa evoca o principal filme de zumbis já realizado. Dentre as outras homenagens presentes na produção, Carpenter usou o mesmo nome do personagem de Wayne em Rio Bravo para assinar os créditos de montagem do filme.

O filme narra a história de um policial que é convocado para cuidar de uma Delegacia de Polícia que está prestes a ser desativada. O que ele não esperava é que um ônibus trazendo três criminosos deixaria a noite um pouco mais movimentada. Pouco depois, um homem invade a delegacia dizendo que está sendo perseguido e então começa a ação, com uma gangue de malucos atirando para todos os lados e deixando um rastro de destruição.

A apresentação dos personagens merece ser vista com atenção. Napoleon Wilson é um dos três criminosos presos dentro do ônibus e na sua primeira cena está dentro de sua cela pedindo por um cigarro (coisa que ele pediria para praticamente todos os outros personagens que cruzassem o seu caminho ao longo da história). Com uma cara de galã de filme pornô, é óbvio que ele é um daqueles vilões que o público vai amar e torcer. O policial Ethan Bishop sai de sua casa para o trabalho, ignora o flerte de uma motorista que aparece por duas vezes (até achei que a mulher iria atirar em alguém), e recebe a sua missão. Fica claro desde o começo que ele é um líder nato, que é calmo e sabe lidar com pressão. E claro, os próprios vilões, que acompanhados da trilha sonora genial de Carpenter tocam o terror pelas ruas do bairro e não dão sossego nem para o sorveteiro. Todos os laços vão se amarrando perfeitamente no roteiro, que envolve o espectador sem muita dificuldade. Inclusive, o diretor consegue trabalhar bem com o clima claustrofóbico que exploraria tão bem no já citado O Enigma de Outro Mundo.

Para a época em que foi lançado, Assalto à 13ª DP deve ter causado muita polêmica e deixado a conservadora sociedade norte-americana de cabelos em pé. Tudo isso por conta de uma cena que acontece logo no começo da história, quando uma criança de rosto angelical é violentamente baleada por um dos criminosos. De certa maneira, podemos dizer que a cena inteira é aquele típico exemplo de hora errada, lugar errado. A menina só queria comprar um sorvete especial de baunilha e ficou irritada quando descobriu que tinha ganhado um baunilha comum. Enfim, merdas acontecem.

Indicado para qualquer pessoa que admire o trabalho de John Carpenter, que dois anos depois lançaria um de seus principais sucessos na carreira: Halloween, verdadeiro clássico do cinema de horror e que influenciou Sexta-feira 13, A Hora do Pesadelo, dentre várias outras franquias que viraram verdadeiras fábricas de dinheiro para a indústria.


Nota:[tres]