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Quem lê os posts pensa que sou uma fã do Darren Aronofsky, mas to aproveitando o embalo de Requiem para falar desse filme que me foi muito indicado.

Primeiro filme do diretor, de 1998, com Sean Gullette no papel principal.

A 16ª letra do alfabeto grego e também constante matemática (que já irritou muitos jovens no ensino médio) é o assunto que leva não só o ator, como também nós, espectadores, a uma especulação inquietante. A teoria de que o mundo é todo números foi criada há muito tempo, e levantada por famosos matemáticos de nossa história. Da Vinci é conhecido por, em uma de suas obras mais famosas, “O Homem Vitruviano”, explicar a relação que cada parte do nosso corpo possui, graças à divina proporção, ou o número de ouro (quem assistiu ou leu O Código Da Vinci deve lembrar). De acordo com essa divina proporção, todo o universo possui uma relação numérica, explicada pela única ciência capaz de desvendar os enigmas e mistérios com precisão.

Diante desse assunto polêmico, vários estudiosos levantaram questões e desenvolveram teorias, e coube a Darren Aronofsky comprimir essa obsessão humana em 84 minutos, e transmití-la de forma, às vezes não tão clara, para nós, leigos ou não.

Max Cohen acredita na correlação entre padrões matemáticos e padrões existenciais, e transforma essa idéia numa busca incessante pela resposta de perguntas até então insolúveis. A ponto de encontrar uma solução para o maior sistema de caos “ordenado” do mundo, a bolsa de valores, ele se vê mergulhado na loucura e na pressão para desvendar esse código.

Quando uma poderosa firma da Wall Street, faminta por poder, e uma seita judaica que acredita piamente que no Torá está a mensagem enviada por Deus que definirá o futuro do mundo começam a perseguí-lo em busca desse código, Max é atormentado por seus demônios pessoais, caindo num poço de paranóia e auto-destruição.

O filme, todo em preto e branco, é puro simbolismo. Metáforas em cafés e fumaça de cigarro, além de conchas, reforçam o significado do título. O próprio protagonista cái numa espécie de espiral de demência, onde a realidade e a alucinação se misturam.
O estilo de filmagem de Aronofsky também contribui para nos transmitir a angústia em que Max vive. Pressionado a sugar de seu cérebro respostas que não surgem, e aconselhado por seu professor Sol Robeson (Mark Margolis) a desistir dessa busca, fica em sua mente o terrível dilema: desistir ou ir até o fim?

Recomendo demais.