papicha 2019

Papicha (2019)

No excelente Papicha – sua mais nova incursão pela 7ª arte -, a diretora Mounia Meddour adentra no universo de jovens universitárias, para apresentar os horrores que ocorreram durante a Guerra Civil argelina. Conflito que ceifou a vida de milhares de inocentes e cerceou ainda mais a liberdade das mulheres, incluindo o uso obrigatório do hijab (vestimenta típica da cultura muçulmana).

Fugindo das cenas comuns de violência contra a população, Meddour demonstra todo o seu talento ao trazer um novo recorte à questão da repressão: um desfile de moda dentro da faculdade como forma de protestar contra o regime autoritário. Quer cenário mais feminino do que o universo da moda?

Para sustentar o enredo, a diretora se apoia num elenco competente e cheio de carisma, capaz de nos fazer torcer pelo futuro de cada uma. A forma como a diretora conduz a narrativa coloca o espectador dentro do dia a dia daquelas garotas. Chegamos a sentir os desejos, as inseguranças e as dores das personagens.

Como força propulsora dos sentimentos em ebulição e da revolta contra a realidade está Nedjma, vivida com entrega impressionante da jovem Lyna Khoudri. Nedjma cursa faculdade de língua francesa e sonha em ser estilista de moda. Ao ser confrontada pelos terroristas muçulmanos, começa sua jornada individual.

É, então, que a passarela da moda se transforma em um palco de protesto contra o regime totalitário. O cenário está montado: de um lado se encontra Nedjma, que reforça sua identidade libertária no jeito de se vestir e na confecção de roupas; do outro, está a imposição do uso do hijabe, que representa a supressão da individualidade e da liberdade pelo sistema.

A partir dessa alegoria, Papicha deixa sua marca no cinema mundial. Por vezes é difícil de assistir; dá tristeza, angústia, medo e muita revolta. Mas, mesmo diante de uma história pesada, é um deleite constatar que a doçura feminina nunca morre. Ela sempre estará lá, lembrando que os vínculos de amor são eternos.

*Papicha foi escolhido para representar a Argélia no Oscar 2020.