Confesso que muito desse post se deve ao fato de que discordo do nosso amigo Joubert, quanto ao que ele disse sobre Onde os Fracos Não Tem Vez. Não queria escrever a respeito! É um dos filmes mais esperados (afinal é a volta dos Cohen, desde o igualmente celebrado Fargo), e comentados (quase unanimidade entre os favoritos ao Oscar, ao lado de Sangue Negro, que ainda não vi) dos últimos tempos, é se torna difícil escrever algo sobre um filme nessa situação e ainda assim ser original.
O fato é que, Onde os Fracos…, é um filme belíssimo, no sentido mais amplo da palavra. Sério. Posso estar sendo levado por uma leve empolgação, afinal, um filme não me afetava tanto assim desde de… Match Point?
Adaptado da obra de Cormac McCarthy, (que não li ainda), o filme conta a história de Llewelyn Moss (Josh Brolin), que encontra uma mala contendo 2 milhões de dólares, em meio ao que seria um massacre no meio do deserto. Desprezando uma possível ligação entre os fatos, Moss fica com a grana, mas não sem passar por situações no mínimo, complicadas, por conta de matadores de aluguel que passam a persegui-lo, em especial Anton Chigurh (Bardem) e seus cabelos exóticos. Para completar a trinca de personagens temos o detetive Ed Tom Bell (Jones), que tenta ajudar Moss no caso, e fica cada vez mais impressionado com a violência que presencia.
Já é lugar comum falar da interpretação de Bardem, que aproveita ao máximo as potencialidades de um personagem, que poderia ser problemático, para um ator menos competente. Mas seu Anton Chigurh é concebido com extrema delicadeza, (sim, delicadeza!) no sentido de que não há excessos, é tudo milimetricamente pensado para que o personagem seja completamente crível, apesar da força e da loucura impressas em suas cenas (fatores sempre realçados pela direção dos Cohen, que insistem em mantê-lo envolto em uma aura quase sobre-humana). E não é um mero detalhe a arma que usa para abater seus alvos: seres humanos não diferem muito de gado, segundo sua visão, e não há necessidade de uma justificativa exterminá-los.
O lado humano do filme, fica por conta do personagem de Tommy Lee Jones. Nossa identificação com seu xerife, se deve muito por sua interpretação, a todo momento desiludida com a situação que se apresenta, mas também pela força do roteiro e de suas falas, que de certa forma sinalizam um mundo onde determinadas posturas já recorrentes em nossa sociedade (e aí está o sentido do título inicial – homens velhos não tem pais??), fazem com que nos questionemos sobre nosso lugar nele: não há nada que assegure nossa integridade, nem física e nem moral. Afinal se o homem, apesar de inúmeros progressos, em inúmeras áreas, ainda é capaz de barbaridades tão absurdas quanto as cometidas por Chigurh, onde vamos parar?
E sobre o Oscar: Sim! A estatueta que ele possivelmente deve ganhar neste domingo tem muito de reparação por parte da academia. Quase como fizerem com Scorcese ano passado por Os Infiltrados. Os caras já foram muito premiados, e só ganharam um Oscar pelo roteiro de Fargo. Só que assim como no caso Scorcese, não pode-se desconsiderar os méritos do filme, que apesar de uma suposta “gererosidade” da academia, fará por merecer o Oscar. Embora nem precise disto: filmes como este estão acima de qualquer premiação…