
Para quem é conhecedor da obra de Verhoeven não chega a ser surpreendente. O filme é nada mais que um conto de fadas distorcido onde a pessoa mais bonita não é nenhuma mocinha delicada, e que a feia tem uma grandiosa beleza interior. Ou seja, o conflito que parecia loucura logo acima ganha uma boa explicação. O diretor sabe que a decisão de colocar na balança uma mulher dos sonhos com uma mulher “real” deixaria o espectador curioso, provavelmente achando que o herói não bate mesmo muito bem. Mas depois de uma observação mais cuidadosa tudo fica mais simples de ser entendido, mas nem assim seria o suficiente para convencer alguém a dispensar a futura psicopata do picador de gelo.
Douglas Quaid (Arnold Schwarzenegger) está tendo mais um de seus constantes pesadelos e quando acorda, é consolado pela esposa, Lori (Stone), mas nada funciona. Nem aquela transa matinal tão querida entre os homens. O grandalhão cismou que quer ser mais do que um mero escavador e decide comprar falsas lembranças para viver sua experiência em Marte, mas ele descobre que é um agente secreto super badass e precisa lidar com um pepino de outro mundo.

Durante uma das cenas mais marcantes de O Vingador do Futuro (que por sinal, entraria facilmente na lista das piores traduções de títulos de todos os tempos. Geralmente filmes com “vingador”, “matador”, “lutador”, ou algo relacionado, com um substantivo como “futuro” ou adjetivo como “rebelde”, costumam ganhar grande destaque na galeria de traduções escrotas), Doug se fantasia como mulher para tentar escapar dos vilões. O problema é que a fantasia dá errado e ele é flagrado, gerando um dos pontos altos do longa-metragem. Pouco antes o público já havia sido “presenteado” com Schwarzenegger enfiando um artefato dentro do narigão para encontrar um rastreador. E por último, outra cena marcante (não, não é a cena da luta das mulheres. e sim, eu torci para a Lori) é quando Kuato sai de dentro da barriga de um coadjuvante e dá seus últimos suspiros.
Baseado numa obra de Phillip K. Dick, o filme de Verhoeven é daqueles que pode não deixar uma boa primeira impressão em alguns cinéfilos, mas que cedo ou tarde acaba caindo nas graças dos fãs de boas ficções-científicas. Como se não bastasse ter uma história inteligente e cativante, o filme ainda pode se dar ao luxo de mostrar o encontro de Schwarzenegger com a musa do cinema no começo da década de 90, sem falar na genial (e subversiva) mente do holandês Paul Verhoeven. Indispensável.