O Livro de Eli

Se você já tiver assistido A Estrada ou Eu Sou a Lenda, talvez não precise conferir o último trabalho do ator Denzel Washington. A sensação de deja-vu é grande e permanece por boa parte da trama apocalíptica de O Livro de Eli. Porém isso não quer dizer que se trate de um filme ruim, embora seja bem inferior aos outros dois longas mencionados. A história faz uma grande mistura entre a violência, solidão e o fim do mundo com uma ação besta digna de filmes da “tela quente”. Em Eu Sou a Lenda, Will Smith até arrisca dar umas boas porradas nos zumbis malvados que infestam a cidade, mas nada que o transforme em um ninja justiceiro da forma que acontece com Denzel Washington. As cenas de luta acabam desviando o foco religioso e filosófico que poderiam tornar o filme bem mais relevante, algo semelhante ao que aconteceu com a segunda e terceira parte da trilogia Matrix.
Realizado pelos irmãos Hughes, os mesmos responsáveis pela adaptação fodona da graphic novel Do Inferno de Alan Moore, temos uma produção que tem um belo visual artístico em tons de cinza. Mas depois de conferir A Estrada, fica difícil criar algo inovador se tratando do fim do mundo. O Livro de Eli até tenta, mas acaba sendo irregular e exagera na cena em que os personagens atravessam a ponte São Francisco na Califórnia. As cores fortes foram podadas durante todo o filme e basta a ponte aparecer para uma infinidade de cores brotarem na tela. Entendo que a intenção seja justamente a de dar esperança, mas foi rápido e exagerado demais.
Existem outros problemas no filme. Gary Oldman é especialista em alternar bons e péssimos filmes em boas e péssimas atuações. Se em Batman e Harry Potter ele encontrou um personagem digno de competir com seus melhores papéis (O Profissional, Dracula e Amor a Queima Roupa), em O Livro de Eli ele repete os fiasco de Alma Perdida. Seu personagem é ridículo e fica ofuscado pela participação (nada inspirada) de Denzel Washington, que já não havia feito muito em Sequestro do Metro 123. O pior mesmo ficou por conta da deliciosa Mila Kunis. Como se não bastasse ser linda e servir apenas de figurante, a guria tem um desfecho imbecil e digno de roteiros que não conseguem bolar um final melhor. Como exemplo, dadas as devidas proporções, podemos comparar o destino da personagem de Natalie Portman em O Profissional (se não viram ainda, acelerem o processo). O cinema não precisa de outras Lara Croft`s em filmes fracos. Melhor que a personagem de Milla Jovovich em Resident Evil não vai existir nunca…
Como mencionei no começo do texto, O Livro de Eli poderia causar muito mais impacto se usasse a violência apenas como um detalhe. Afinal não é todo dia que temos um Jesus Negão que mata os vilões e quer proteger a palavra sagrada da sua bíblia. Lidar com religião é sempre um assunto polêmico e que pode gerar discussões acaloradas, principalmente ao mostrar em um filme o quanto ela pode ser perigosa nas mãos das pessoas erradas. A manipulação é a verdadeira fé da maioria dos corações mal-intencionados e assistimos isso diariamente. Uma pena que os irmãos Hughes não conseguiram criar uma obra forte o suficiente para esquentar ainda mais o papo que mais rende nas mesas de buteco, junto de futebol, sexo e política, claro.
São duas caipirinhas.
Ficha Técnica:
O Livro de Eli (Book of Eli, 2010)
Dirigido: Albert Hughes, Allen Hughes
Roteiro: Gary Whitta
Genêro: Ação apocalíptica
Elenco:
Denzel Washington , Gary Oldman
ps: trabalho em uma livraria e MUITOS clientes chegaram na loja querendo o tal livro do Eli. Indiquei a bíblia e alguns chegaram a brigar que não era o tal livro… hahaha