Review: O Lagosta

O Lagosta é um filme de 2015, do diretor e roteirista grego Yórgos Lánthimos, que traz uma sociedade em um futuro próximo, no qual as pessoas não podem ficar solteiras. Nesse contexto, qualquer homem ou mulher que não esteja envolvido em um relacionamento é preso e enviado a um Hotel, no qual a pessoa terá 45 dias para encontrar o seu parceiro mais compatível ou quem dirá, a sua “alma gêmea”. Caso essas pessoas não encontrem tal parceiro, são transformados permanentemente num animal de sua escolha e enviados a uma floresta, para assim viverem. Em meio a esse destino fatídico, há também aqueles que fogem do hotel e vão viver na floresta e, por essa escolha, são caçados pelos demais.

O diretor Yorgos Lánthimos é responsável por outras obras excêntricas como Dente Canino (2009), O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e A Favorita (2018), essa última que lhe rendeu dez indicações ao Oscar, entre os quais Melhor Diretor e Melhor Filme e pelo qual a atriz Olívia Colman foi consagrada com a premiação de Melhor atriz.

O Lagosta é, possivelmente, a obra mais importante do diretor e traz uma análise ácida sobre os relacionamentos humanos e, em maior grau, sobre a vida contemporânea. As pessoas vivenciam uma realidade paralela na qual agem de forma fria, objetiva e mecanizada, como se não tivessem ou sentissem emoções e é exatamente dessa forma como se relacionam uns com os outros. É impossível aqui não fazer um paralelo com o pensamento do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra “Amores líquidos, na qual explicita que a sociedade moderna vive um mundo de incertezas e fragilidades, em que as relações se tornam cada vez mais individualizadas e mercantilizadas. É o que, em suma, o autor chama de “modernidade líquida” e, nesse sentido, as relações se tornam verdadeiros “amores líquidos”. Nesse sentido, Bauman questiona: “É possível expressarmos verdadeiramente afeto por alguém? Amamos uma pessoa pelo que ela é, ou pelo que ela representa para nós?”. 

Em meio a toda a crítica social proposta no filme, temos também atuações impecáveis, tais como a do protagonista Collin Farrell, que vive David, de sua companheira míope, vivida pela atriz Rachel Weisz, além da atriz francesa Léa Seydoux que personifica a liderança do movimento dos solitários – ou solteiros –, contrário à ordem até então estabelecida. Não há também como não mencionar o restante do incrível elenco, que também conta com Ben Whishaw, John C. Reilly, Olivia Colman e Jessica Barden.

Um detalhe curioso aqui é o fato de que as personagens femininas na obra não são nomeadas.

O filme foi indicado e recebeu diversos prêmios em diferentes festivais, consagrado também em sua única indicação ao Oscar pelo Melhor Roteiro Original, no ano de 2017.

O Lagosta não traz conclusões claras, mas, sem dúvida, nos propõe reflexões existenciais sobre as relações humanas e sobre o amor e até que ponto ele pode nos “cegar”. Seja quando nos forçamos a ser quem não somos em prol do outro e da própria relação ou quando acreditamos que a relação em si é a única salvação de nós mesmos.

Por Natalia Ferri