NA MESMA VIBE DE PRODUÇÕES COMO 50 TONS DE CINZA e 365 Dias, chega o suspense erótico O Lado Bom de Ser Traída, do cineasta Diego Freitas. O longa-metragem está disponível no streaming da Netflix, e tem Giovanna Lancellotti como protagonista de uma produção que varia entre ser um romance de descoberta pessoal e um thriller de corrupção corporativa.
A introdução é competente para contextualizar a personagem principal. O primeiro contato com Babi (Lancellotti) é através do seu sonho erótico com um motoqueiro desconhecido. Depois ela envia uma mensagem para o noivo, dizendo que está morrendo de saudades. O rapaz surge de repente, apenas para iniciarem uma relação sexual mais rápida do que uma canção do Blink 182. Pode parecer banal ou bobo, mas é o suficiente para contextualizar quem é a Barbara. Ela está apaixonada, mas ao mesmo tempo frustrada sexualmente. É como se faltasse algo em sua vida.
Tudo começa a mudar a partir do momento em que Babi descobre uma traição. Ela muda o seu visual, adota uma postura mais dominante e menos princesinha. De um cabelo loiro odonto, passa a usar cabelo preto selvagem. Não demora para se envolver com um juiz bonitão, ao mesmo tempo em que começa a ser perseguida, seja com invasões domiciliares, filmagens de seus momentos íntimos e até uma tentativa de homicídio em um acidente de trânsito.
E aqui temos o grande defeito do roteiro de O Lado Bom de Ser Traída. O compromisso maior da obra parece ser na construção de um soft porn digno do antigo Sexytime, do Multishow. Outros filmes já fizeram isso e fracassaram, como o lazarento 365 Dias, cuja premissa distorcida tornava impossível ver qualquer mérito na obra – exceto pelo corpo de seus atores. O roteiro de Sue Hecker respeita a nossa inteligência, no sentido de caminhar para muitas cenas de sexo sem ser estúpido ao ponto de nos obrigar a compactuar com um crime. Porém, seria mais interessante um desenvolvimento maior do lado thriller do que ver uma adaptação de Kama sutra ao som de Anitta. Inclusive, queria ser transante assim. Imagina. Conseguir trepar em todos os lugares possíveis e só escolher a cama depois de esgotar possibilidades (ou sentir dor nas costas). Inveja.
Aliás, falando da proposta principal do longa, não espere ver muito mais que seios e uma abundância de traseiros desfilando em cena. São coreografias classificação 16 anos, sem nada demais ou que possa desagradar os mais conservadores ou a Geração Z, que segundo pesquisas não gosta de ver nudez e sexo nos filmes. Alguém avise para eles passarem longe desse aqui, viu?
O ponto mais curioso do filme é a atuação de Camilla de Lucas, responsável por momentos raros de alívio cômico na narrativa. Como na sequência em que invadem a casa do ex-noivo e ela precisa seduzir o porteiro. Pode parecer um grande exagero para a maioria das pessoas, mas quem é que nunca aceitou levar uma pelo time, não é mesmo?
Bruno Montaleone na pele de Thiago é um personagem ambíguo. O famoso lobo em pele de cordeiro, que se aproveita de uma posição de confiança para se aproximar em um momento de fragilidade. Montaleone convence na pele de um homem dissimulado e interessado apenas em si mesmo.
O Lado Bom de Ser Traída é vendido pela Netflix como um filme de descobertas sexuais, dando a entender que a protagonista viverá várias histórias carnais. Não é bem assim. Babi se descobre como pessoa após o fim do noivado, mas não passa o rodo como se quisesse tirar o atraso. O que faltava para ela era simplesmente ter uma boa companhia, capaz de durar mais de 1 minuto e meio durante uma transa, e que a amasse. Para quem gosta dos soft porn da Netflix, dá para se divertir.