Crítica: O Tempo Não Apaga (1946)

O filme de Lewis Milestone é especial por vários fatores: marca a estreia de Kirk Douglas (Glória Feita de Sangue) nos cinemas, após a indicação da amiga Lauren Bacall, tem o competente trabalho de Barbara Stanwyck, que havia trabalhado no marcante Pacto de Sangue dois anos antes, e ainda tem todo o charme e ambientação proporcionados pelo cinema noir.

A história começa em 1928, quando a jovem Martha se vê encurralada por sua tia. Os meios que ela encontra para sair dessa situação não é o dos mais fáceis, o que faz com que a garota e seu amigo Sam guardem um segredo e eles o preservam por décadas.

Muitos anos depois disso, Sam (Van Heflin, de Os Brutos Também Amam) volta para a cidade onde cresceu e reencontra Martha, agora casada com o dependente, alcoólatra e manipulado Walter (Kirk Douglas).

Com isso, temos o cenário é perfeito: uma mulher de personalidade forte, dois homens que gostam dela e um segredo do passado que os une.

O que acontece a seguir é o resultado de uma tensão entre os três personagens. Permanece o clima pesado enquanto o casal acredita que Sam está na cidade para tirar vantagem deles de alguma maneira, mas o que Sam quer não tem nada a ver com os amigos de infância. Quer dizer, aparentemente. Afinal, algumas dúvidas surgem quando Sam reaparece, como seu paradeiro no intervalo de vinte anos, seu interesse real atualmente e a essência da relação entre Martha e Walter.

Kirk Douglas mostra por que sua estreia no cinema foi tão especial. É uma mistura de talentos de diversos profissionais, enquanto Douglas tem uma interpretação contida, de acordo com o que o personagem pedia, sem cair na armadilha de se tornar caricato.

A iluminação é um fator essencial para o clima do filme, sempre mostrando Barbara Stanwyck em posição de poder ou mistério. Mas o melhor de tudo é reparar no rumo que a história segue.

Lançado em 1946, O Tempo Não Apaga é um belo exemplo de filme convidativo e charmoso da época em que Hollywood mais brilhou.