Retratar a velhice no cinema é sempre um desafio muito grande, sobretudo devido ao preconceito que temos enquanto sociedade sobre essa temática.
O diretor Alexander Payne, responsável por Os Descendentes (2012), Sideways – Entre umas e outras (2005) e As confissões de Schmidt (2002), traz no road movie Nebraska (2013) a história de Woody Grant (Bruce Dern), um idoso que acredita ter recebido um prêmio de US$ 1 milhão de dólares através do que se descobre ser, na realidade, uma propaganda que chega via correio.
Para conseguir recolher o seu valioso prêmio, Woody precisa ir até a cidade de Lincoln, Nebraska, porém, devido ao seu estado de saúde debilitado, especialmente em relação a sua comprometida memória, o seu filho, David (Will Forte), decide levá-lo até a cidade numa viagem de carro, contrariando sua mãe e seu irmão, que temem que a ideia é muito ruim.
Muitas situações inesperadas ocorrem durante a longa viagem de pai e filho até o destino do sonhado milhão, inclusive uma visita à cidade natal de Woody, que o faz ter muitas lembranças e histórias, que são compartilhadas com o filho.
A busca pelo prêmio representa para Woody também uma busca pela esperança de uma vida melhor, que vive o luto de sua velhice e dos arrependimentos de sua vida, tais como o tedioso casamento com Kate (June Squibb) e a relação distante com os filhos, como o próprio David e Ross, vivido pelo ator Bob Odenkirk. Com o prêmio, Woody esperava poder deixar algo para os filhos, na tentativa de resgatar algo dessa frustrada relação.
O longa consegue transmitir através de delicadeza e humor a melancolia que Woody vive através dos efeitos da avançada idade e do uso abusivo do álcool ao longo de sua vida, tanto em relação aos seus esquecimentos bem como em relação à sua dependência física cada vez maior. O fato de o filme ser retratado todo em preto e branco reforça ainda mais esse aspecto melancólico e o seu ritmo, por vezes mais devagar, exige do expectador um esforço maior em acompanhar a história, porém a sensibilidade criada a partir dos inteligentes diálogos e das relações entre todas as personagens, é muito cativante e não nos faz perder a atenção.
Um destaque merecido é em relação às ótimas atuações, em especial a do ator Bruce Dern (pai da atriz Laura Dern), que vive o protagonista Woody. O filme, inclusive, rendeu a Bruce a indicação ao Oscar e o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes, ambos no ano de 2013. Além disso, outro destaque se faz à bela trilha sonora, obra do compositor norte-americano Mark Orton.
Nebraska é um filme para os fortes, pois requer que estejamos abertos e sensíveis a uma reflexão que não desejamos ter que fazer, enquanto sociedade ocidental e capitalista, a do fim da vida. Para aqueles que estejam dispostos e corajosos, é uma obra fantástica.
Por Natalia Ferri