O Cinema de Buteco adverte: A crítica de Missão: Impossível – Efeito Fallout possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
A GENTE SABE QUE É SÓ UM FILME, mas de repente nos pegamos com as mãos suando frias e ajeitando a bunda na poltrona do cinema.
É só um filme, eles disseram. Bem, talvez não qualquer filme. Missão: Impossível – Efeito Fallout é a sexta aventura de Tom Cruise na franquia baseada numa série de televisão e que ganhou as telonas pela primeira vez em 1996. Muitos críticos afirmam que esse é o MELHOR filme da série. Será?
A trama se passa imediatamente após os eventos do irregular Missão: Impossível – Nação Secreta, que por sua vez, dava prosseguimento ao que acompanhamos no excelente Missão: Impossível – Protocolo Fantasma. Ou seja, não é indicado assistir ao novo filme sem ter visto pelo menos esses dois exemplares da série.
Desta vez, Ethan Hunt (Tom Cruise) e sua equipe do IMF precisam lutar contra o tempo depois que uma missão dá muito errado e a humanidade começa a correr sérios riscos de ser extinta. Outra forma de resumir essa sinopse é dizer que Hunt está mais uma vez disposto a realizar verdadeiras peripécias para cumprir suas missões surreais.
Sem dúvida, estamos diante de um dos melhores filmes de ação de 2018. A capacidade do cineasta Christopher McQuarrie em recriar sequências eletrizantes é incontestável (por exemplo, eu ainda não me recuperei do salto de paraquedas no meio de uma tempestade ou da porradaria desenfreada no banheiro), mas isso não basta para ignorarmos os defeitos presentes na obra. Para ilustrar esses, nada mais justo que citarmos uma sequência de ação.
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Hunt é um cara inteligente e disposto a qualquer coisa, inclusive aprender a pilotar um helicóptero com a destreza de um piloto experiente e fazer manobras incríveis em questão de minutos. A lógica interna da série fica seriamente comprometida aqui. Os absurdos dos longas anteriores nem se comparam. Desta vez exageraram na dose e transformaram Hunt numa versão do Capitão América (ou você acha normal uma pessoa ter aquele preparo físico correndo por vários km em alta velocidade?). Fica pior quando a gente percebe que aqueles dez minutos da contagem regressiva não seriam o suficiente para tudo que acontece paralelamente no helicóptero ou na luta dentro da cabana. Qualquer semelhança com pista de aeroporto em Velozes e Furiosos 6 não deve ser mera coincidência.
O mérito inquestionável, mesmo nos momentos mais problemáticos, é a mistura improvável de humor com tensão. Como escrevi ali no começo, sabemos que é apenas um filme, porém é impossível não se envolver e ficar inquieto. O ritmo desenfreado garante a presença da produção na nossa lista de final do ano, mas bem abaixo do original e de Protocolo Fantasma, meus favoritos.
Falar do carisma de Tom Cruise é chover no molhado, e não precisamos nos repetir mais uma vez nesse tema. A grande novidade é a participação de Henry Cavill (e seu infame bigode que causou tanta polêmica em Liga da Justiça) na pele de um agente da CIA tão confiável quanto a sobriedade de Nicolas Cage em Despedida em Las Vegas. Eu não assisto trailer de filme, e não vi o trailer de Missão: Impossível, e não sei se foi revelada a verdadeira natureza do personagem. A verdade é que desde o começo tive a impressão de que ele seria o grande responsável pelos problemas.
Como vilão, Cavill até nos faz ter boas expectativas com seu futuro fora do universo das adaptações do Superman, mas o roteiro não é lá muito bondoso com o seu personagem. Questiono a decisão do diretor em revelar sua traição num momento muito precoce e depois deixar óbvio que todo mundo já desconfiava dele, no entanto, o resultado é agradável. Torna divertido ver Hunt combatendo o Superman (e seu bigode). Aliás, vamos ser sinceros, né? O roteiro não foi lá tão brilhante assim desta vez.
A trilha sonora de Lorne Balfe foi uma boa surpresa e me levou diretamente para 1996, quando Danny Elfman cuidou da trilha sonora do filme original. Os temas musicais funcionam como uma atração a parte, fornecendo o ambiente certo para criar tensão ou nos preparar para sequências de ação. Detalhe: “Consequence of Love“, uma das faixas da trilha sonora, é de autoria de uma certa atriz alternativa conhecida como Sasha Grey.
Missão: Impossível – Efeito Fallout é diversão garantida para fãs de cinema e entrará fácil na nossa lista de melhores filmes de ação de 2018 mais por sua ação desenfreada e bem conduzida do que pela inteligência do seu roteiro. No final das contas, o que importa é sair da sala de cinema se sentindo realizado. Pelo menos nisso, Tom Cruise ainda é infalível.