Minha Mãe é Uma Peça

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AS COMÉDIAS NACIONAIS COSTUMAM DEIXAR CERTOS ESPECTADORES COM FRIO NA ESPINHA. Após experiências um tanto negativas com Cilada.com, Muita Calma Nessa Hora, dentre tantos outros exemplos que fazem um humor rasteiro e sem o menor esforço em tentar fazer o público refletir, algo digno do nível do “humorístico” Zorra Total, é sempre surpreendente se deparar com uma obra como Minha Mãe é Uma Peça. Longe de ser considerada genial ou impecável, a adaptação da peça de teatro arranca boas risadas, o que a torna bem sucedida como comédia. Ainda que bilheteria alta não ateste a qualidade do produto, a produção já é um dos cinco maiores sucessos nacionais da temporada ultrapassando a marca de um milhão de bilheteria (e crescendo).

O filme conta a história da espirituosa Dona Hermínia (Paulo Gustavo) e a sua relação com os filhos mais novos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo). Depois de uma discussão, a mãe que todo mundo gostaria de ter (ou tem) decide sair de casa e deixar as “crianças” sozinhas. Hermínia busca abrigo na casa de sua tia e começa uma verdadeira terapia enquanto vai relembrando fatos da infância de seus filhos e da sua própria experiência como mãe. Seria tudo muito clichê e bobo se não fosse pela língua afiada da senhora de meia idade, que tem um gênio forte e fala tudo o que pensa independente de deixar as pessoas constrangidas.

Parece que quem tiver conhecimento prévio da peça de teatro que ficou em cartaz durante muitos anos, mas que cuja história é diferente da do longa-metragem, terá um prazer a mais conferindo a adaptação. Minha namorada elogiou bastante a maneira como o ator Paulo Gustavo está mais confiante e confortável no papel da mãezona. De qualquer maneira, mesmo sem conhecer a peça, confesso ter me divertido horrores com a maior parte das piadas. A atuação de Gustavo é hilária e se o roteiro fosse idiota, ele seria capaz de sustentar tudo sozinho sem o menor esforço. A cara de preguiça transmitida pelo personagem diante vizinhos chatos e situações banais (como dividir um elevador com uma senhora peidorreira) é impagável. Somente por isso as risadas seriam garantidas, mas quando o chicote verbal de Dona Hermínia entra em ação tudo fica ainda mais engraçado.

O público brasileiro ainda é, em sua grande maioria, homofóbico e com sérios problemas em saber respeitar as opções pessoais de cada pessoa. Recentemente, no horroroso Assalto ao Banco Central tivemos um personagem gay que servia apenas como alívio “cômico” com piadas imbecis que ridicularizavam a opção sexual do jovem. Em Minha Mãe é Uma Peça também temos um personagem homossexual, o jovem Juliano, que mesmo sendo apresentado de uma maneira um tanto caricatural, acaba funcionando melhor do que em quaisquer outra obra e não soa nada apelativo, já que a produção inteira é uma piada dos primeiros minutos até os créditos finais. A piada acontece pelos atos do personagem em determinado momento, e em hora alguma no que ele é e representa. O politicamente incorreto sempre me divertiu, e o longa-metragem acerta ao deixar o tema gay de lado para investir na quase obesidade de Marcelina, que têm todas as características de uma boa leonina. Se é que isso existe.

O nível escrachado das piadas ofusca a tentativa de incluir um pedaço dramático no roteiro. É compreensível querer mostrar a preocupação materna e o medo de criar um adolescente nos dias de hoje, mas a cena mais séria da produção fica tão sem lugar que uma das personagens até chega a dizer: “Nossa, o papo ficou triste, hein?”, como se fosse a maneira de cortar bruscamente o assunto e retomar ao que Minha Mãe é Uma Peça vinha apresentando tão bem: o humor e a graça de viver todos os dias com uma pessoa tão espirituosa. Outro problema que a sequência acaba criando é um efeito um tanto moralista, como se fosse uma campanha gratuita contra o ato de beber e dirigir. Talvez o melhor fosse deixar de lado o teor dramático, que embora não seja de todo descartável (é até interessante observar que mesmo uma louca como a Hermínia consegue manter a boca fechada quando é preciso), realmente se perde em relação ao restante da obra.

Um mérito de Minha Mãe é Uma Peça é aproximar o público, especialmente quem conhece a cidade de Niterói, de tudo que acontece em cena. Diversas locações são facilmente reconhecíveis e colocando em pauta os valores afetivos de identificação, é realmente difícil não sentir um carinho pelo filme, que independente de ser perfeito ou não funciona muito bem graças ao talento de seus carismáticos protagonistas e de um roteiro ácido e sem firulas. Para quem está atrás de um bom filme sobre mãe, ou simplesmente quer ter um bom motivo para levar a sua para o cinema, é uma opção com garantia de sucesso e diversão.

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Nota:[tres]