NOVA YORK É A MENINA DOS OLHOS DO DIRETOR WOODY ALLEN. A cidade é praticamente uma personagem em diversos de seus filmes, especialmente Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de 1977, e Um Misterioso Assassinato em Manhattan, de 1993. Em Manhattan, produção de 1979, Allen continua demonstrando a sua devoção à big apple e seus encantamentos e desilusões.
A história do longa-metragem está bem próxima do lugar comum dos outros filmes do cineasta: seu personagem principal é um reflexo de sua própria personalidade, uma continuação do que o público já conferiu anteriormente. Por um momento, talvez pela presença de Diane Keaton (que já foi casada com Allen), pode-se lembrar claramente de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e imaginar as conexões entre os dois filmes. Mas logo fica claro que, apesar das semelhanças, trata-se de um filme diferente. É fácil de reconhecer o estilo de Allen com o humor sarcástico e inteligente, as piadas que surgem na hora certa e nos fazem rir, e principalmente, na tendência de mostrar como a vida do personagem principal é uma tragédia.
Filmado em preto e branco, Manhattan conta a história de um roteirista de 42 anos decidido a escrever um livro, enquanto vive uma relação passageira com uma adolescente de 17 anos e acompanha o caso extra-conjugal de um amigo (Michael Murphy). Isaac (Allen) ainda tem que lidar com a sua ex-esposa (Meryl Streep) publicando um livro contando sobre a relação de ambos. Curiosamente, a ex-esposa trocou Isaac por outra mulher.
Aliás, as mulheres são, como sempre, um contraponto muito interessante ao típico personagem de Allen – neurótico, ansioso, desengonçado. Elas têm personalidade forte, presença impossível de ignorar e, vez ou outra, são irritantes.
Aliás, as mulheres são, como sempre, um contraponto muito interessante ao típico personagem de Allen – neurótico, ansioso, desengonçado. Elas têm personalidade forte, presença impossível de ignorar e, vez ou outra, são irritantes.
Essa é a primeira impressão deixada por Mary (Keaton), a amante de Yale (Murphy). Após conhecê-la, algo desperta dentro de Isaac e ele vive uma situação imediata de amor e ódio. Por acaso, os dois se encontram numa festa e começam a cultivar uma amizade-colorida. Quando Yale decide colocar um ponto final na sua relação e viver apenas para a sua esposa, o caminho fica livre para Isaac e Mary começarem uma relação.
A felicidade e perfeição do relacionamento entre Mary e Isaac é destruída em uma bela e única cena, que por sinal, é a minha cena favorita de Manhattan. Isaac, Mary, Yale e sua esposa Tracy (Mariel Hemingway) estão assistindo uma ópera juntos e enquanto Tracy está bem concentrada, percebe-se claramente o desconforto de Isaac e a tensão sexual de Mary e Yale.
Allen usa toda a sua acidez para retratar nas telas a desilusão de um personagem egoísta e que perdeu o amor de sua vida, depois de ignorar uma pessoa que o valorizava de verdade. O filme mostra que nunca é tarde para voltar atrás e mudar de ideia (e contar com a completa ausência de orgulho na personalidade da pessoa “amada”) quanto a retomar a relação com alguém que sempre foi tratada como algo passageiro. O amor seria mesmo tão passageiro e interesseiro quanto Allen demonstra? Ou será que o insight apaixonado de Isaac foi mesmo real e não apenas uma necessidade de recuperar alguém que lhe queria bem e curar a sua carência? Só Freud explica.
Embora fale de desilusão e dores de amor, Manhattan é também pura beleza. A fotografia impecável do preto e branco produz algumas das mais belas imagens de Nova York – com destaque para a bela cena que encabeça este post. A sequência de abertura faz um verdadeiro retrato da linda ilha, em toda a sua glória. A cidade, inevitavelmente, se torna um personagem do longa, que passa por pontos facilmente reconhecíveis ou ruas que exalam toda a “novaiorquice” do filme.
Embora fale de desilusão e dores de amor, Manhattan é também pura beleza. A fotografia impecável do preto e branco produz algumas das mais belas imagens de Nova York – com destaque para a bela cena que encabeça este post. A sequência de abertura faz um verdadeiro retrato da linda ilha, em toda a sua glória. A cidade, inevitavelmente, se torna um personagem do longa, que passa por pontos facilmente reconhecíveis ou ruas que exalam toda a “novaiorquice” do filme.
Manhattan é considerado como um dos melhores filmes da carreira do diretor/roteirista, mas é injusto eleger apenas um título em meio a tantos outros clássicos. Como é normal nos trabalhos do diretor, essa tendência de usar sempre o mesmo estereotipo de personagem acaba sendo interessante. É praticamente impossível não relacionar a trama com o roteiro do recente Meia Noite em Paris, que também possui uma verdadeira enxurrada de menções a outros grandes escritores e artistas, além de um personagem decidido a escrever um livro.
Manhattan, 1979
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Woody Allen, Meryl Streep, Diane Keaton