Crítica: Manchester À Beira-Mar (2016)

crítica de manchester à beira-marO CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Manchester à Beira-Mar possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

CONTINUANDO A MARATONA DE CRÍTICAS DOS INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR FILME EM 2017, em cima da hora, hoje é o dia de comentar sobre o triste Manchester à Beira-Mar (Manchester By the Sea, 2016) e um dos melhores lançamentos da temporada e uma dica obrigatória para quem aprecia filmes sobre a realidade da vida.

Casey Affleck (merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator) interpreta Lee, um jovem problemático que volta para a sua cidade depois da morte do irmão. O que ele não esperava era que ficaria responsável pela tutela do sobrinho adolescente, algo que definitivamente não estava nos seus planos.

Triste que fatores externos envolvendo atitudes polêmicas do ator tenham ofuscado a sua indicação e até a recepção da obra. É sempre lamentável quando a babaquice dos indivíduos responsáveis por determinada produção artística prejudique a divulgação do trabalho, já que o público não deveria ser privado de material de qualidade. Por isso fico chateado quando leio gente se recusando a admitir os méritos de Clint Eastwood como diretor por causa de suas opções políticas ou que recriminam Mel Gibson até hoje e ficam cegas para apreciarem Até o Último Homem. Recentemente, o cineasta Nate Parker viu o excelente O Nascimento de Uma Nação ser esnobado de todas as premiações por causa de uma acusação de agressão sexual. Acredito que o correto seja boicotar a pessoa. Deixar de ver determinado filme porque X ou Y fez merda é boicote contra si mesmo, já que estará deixando de ver um belo trabalho de arte.

LEIA TAMBÉM: Quais são os melhores filmes indicados ao Oscar 2017?

A narrativa é pesada e lenta, numa forma de se aproximar ao máximo da realidade. Isso é uma opção proposital do cineasta para trazer o público para dentro dos dramas apresentados na história. A fragmentação cronológica sugere o verdadeiro motivo para que Lee tenha deixado a sua cidade e aos poucos vai mudando a nossa opinião sobre o personagem, que deixa de ser um moleque irresponsável para um cara atormentado pelas suas perdas.

Numa entrevista para o portal Adoro Cinema, a Michelle Williams falou sobre as várias piadas presentes no roteiro. Mesmo se tratando de um drama pesado, Manchester à Beira-Mar encontra espaço para abordar o humor naturalmente. Segundo a atriz, isso é importante porque ninguém quer ver um filme inteiramente sobre problemas e traumas. Mas o principal é que a vida, mesmo nessas situações, pode nos fazer rir com situações corriqueiras. Essa talvez seja a lição mais importante presente no longa-metragem de Kenneth Lonergan.

Esse é um trabalho bem cru sobre amadurecimento e chamada para as responsabilidades do mundo adulto. Lee sofreu com o sentimento de culpa pela morte dos filhos (e mais ainda por não ter sido considerado culpado pela justiça, que percebeu que foi um trágico acidente) e se sente incapaz de permitir uma outra relação próxima com qualquer outra pessoa, especialmente o seu sobrinho – que se parece bastante com o tio, enquanto administra dois relacionamentos paralelos e tenta tirar a virgindade de uma das garotas. Cretino.

Manchester à Beira-Mar é apontado por muitos críticos como uma verdadeira obra-prima, mas somente o tempo poderá confirmar isso. Acredito que seja um daqueles casos que preferimos assistir apenas uma vez, assim como Amor, de Michel Haneke, para não torturar nossa própria alma com a tristeza que domina toda a produção. No entanto, é preciso admitir que ao contrário do premiado trabalho de Haneke, Lonergan tenta oferecer um fio de esperança de que dias melhores virão.